A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO XVI.

 

O AVIVAMENTO EM TRÓIA E NO NOVO LÍBANO

 

NO COMEÇO do outono desse ano, 1826, aceitei o convite do REV.Dr. Beman e sua comunidade para trabalhar em Tróia, pelo avivamento daquela região. Em Tróia, passei o outono e o inverno, e o avivamento foi poderoso naquela cidade. Eu já falei que o Sr. Nettleton fora enviado pelo Dr. Beecher, a meu ver, para Albany, para fazer uma manifestação contra os avivamentos que se espalhavam no centro de Nova Iorque. Eu acreditava muito no Sr. Nettleton, apesar de nunca o ter visto. Tinha muito desejo de vê-lo, tanto que sonhei freqüentemente que o estava visitando e obtendo informações de sua parte sobre as melhores maneiras de promover o avivamento. Tinha vontade de assentar-me a seus pés, quase como um apóstolo, por causa do que escutara sobre seu sucesso em promover avivamentos. Na época, minha fé nele era tão grande, que acreditava que ele poderia me levar, quase ou completamente, à sua escolha.

 

Logo depois de meu avivamento em Tróia, fui até Albany para vê-lo. Ele era hóspede de uma família conhecida minha. Passei uma parte da tarde com ele, e conversamos sobre suas visões doutrinárias, especialmente sobre as visões defendidas pelas igrejas Holandesas e Presbiterianas, no que diz respeito à natureza da depravação moral. Até onde tive chance de conversar com ele, descobri que ele concordava plenamente comigo em todos os pontos da teologia que discutimos. De fato, não houve reclamação alguma do Dr. Beecher ou do Sr. Nettleton sobre nossos ensinamentos nos avivamentos. Não reclamaram sequer uma vez que o que ensinávamos não seria o verdadeiro Evangelho. Eles reclamavam de algo altamente questionável nos meios utilizados.

 

Nossa conversa foi breve sobre todos os pontos que tratamos, porém, percebi que ele evitava falar sobre a promoção dos avivamentos. Quando eu lhe disse que pretendia permanecer em Albany, e escutá-lo pregar uma noite, ele ficou desconfortável e comentou que eu não poderia ser visto com ele. Portanto o Juiz C, que me acompanhara desde Tróia, e que estivera na faculdade com o Sr. Nettleton, foi comigo para a reunião e sentamos juntos na galeria. Vi o suficiente para ter certeza de que não poderia esperar qualquer tipo de conselho ou instrução da parte dele, pois ele estava lá para fazer oposição a mim. Logo descobri que eu não estava enganado.

 

Escrevendo o último parágrafo, minha atenção foi chamada para uma declaração na biografia do Sr. Nettleton, para o efeito de que ele tentou em vão mudar minhas visões e práticas na promoção de avivamentos religiosos. Não creio que o Sr. Nettleton possa ter autorizado tal declaração, pois de certo jamais tentou fazer isso. Como eu já disse, naquela época, ele poderia ter-me moldado ao seu bel prazer, mas não me disse nenhuma palavra sobre minha maneira de conduzir avivamentos, nem jamais me escreveu palavra alguma sobre o assunto. Ele me mantinha a uma distância considerável, e apesar de termos conversado sobre alguns assuntos teológicos, até então muito discutidos, era claro que ele não estava disposto a dizer qualquer coisa a respeito de avivamentos, e também não me permitiria acompanhá-lo à reunião. Essa foi a única vez em que o vi até encontrá-lo na convenção no Novo Líbano. Em nenhum momento o Sr. Nettleton tentou corrigir minhas visões em relação aos avivamentos.

 

Logo começamos a sentir, em Tróia, a influência das cartas do Dr. Beecher, sobre alguns dos principais membros da igreja do Dr. Beman. Essa oposição aumentou, e foi sem dúvida fomentada por uma influência externa, até que por fim foi determinada uma reclamação sobre o Dr. Beman e seu caso foi apresentado ao presbitério. Por várias semanas o presbitério reuniu-se e examinou as queixas contra ele.

 

Enquanto isso, eu continuava com minhas obras no avivamento. Os cristãos continuavam orando poderosamente a Deus. Eu continuei pregando e orando sem cessar, e o avivamento prosseguiu com um poder cada vez maior. Enquanto isso, o Dr. beman tinha a necessidade de dar quase toda sua atenção a seu caso diante do presbitério. Quando o presbitério terminou de examinar as queixas e especificações, creio que foram quase, se não de fato unânimes, em descartar todo o assunto e justificar o caminho que ele escolhera seguir. Nem a queixa nem as especificações eram por heresia, creio eu, mas por coisas conspiradas pelos inimigos do avivamento e por aqueles que foram enganados por uma influência externa.

 

No meio do avivamento foi necessário que eu deixasse Tróia por uma ou duas semanas e fosse visitar minha família em Whitesboro. Enquanto estive fora, o Rev. Horatio Foote foi convidado pelo Dr. Beman para pregar. Não sei quão freqüentemente ele pregou, mas lembro-me que ofendeu muito os membros já descontentes da igreja. Ele falou à comunidade com discursos muito agudos e minuciosos, pelo que ouvi. Alguns deles finalmente decidiram deixar a congregação. Fizeram isso e estabeleceram uma outra igreja, mas isso aconteceu depois de sair de Tróia, não sei quanto tempo.

 

A falha desse esforço para derrubar o Dr. Beman, frustrou consideravelmente o movimento exterior de oposição ao avivamento. Tenho que passar em silêncio, muitos incidentes interessantíssimos que ocorreram durante esse avivamento, a fim de que não pareçam refletir muito severamente nos opositores da obra.

 

Nesse avivamento, como nos anteriores, havia um espírito muito sincero de oração. Tínhamos uma reunião diária de oração, de casa em casa, às onze horas. Em uma dessas reuniões lembro-me que um Sr. S, caixa de um banco naquela cidade, estava tão envolvido pelo espírito de oração, que quando a reunião terminou ele não conseguia se levantar, pois tínhamos todos ajoelhado em oração. Ele permaneceu de joelhos e gritava e gemia em agonia. Ele disse "Orem pelo Sr. &endash;", presidente do banco no qual ele era um caixa. Esse presidente era um homem rico e não convertido. Quando vimos que sua alma estava em batalha por aquele homem, as pessoas de oração ajoelharam-se e suplicaram em oração por sua conversão. Logo que a mente do Sr. S ficou aliviada, tendo a condição de ir para casa, todos nós nos retiramos, e logo depois o presidente do banco, por quem oramos, expressou esperança em Cristo. Antes disso, creio que ele não havia participado de nenhuma reunião, e ninguém sabia se estava preocupado com sua salvação. Mas a oração prevaleceu, e Deus logo tomou seu caso nas mãos.

 

O pai do Juiz C que estava em Albany comigo, vivia com seu filho, de quem eu era hóspede na época. O velho senhor fora um juiz em Vermont. Ele era admiravelmente correto em sua vida secular, um homem respeitável, cuja casa em Vermont havia sido o lar de pastores que visitavam o lugar, e ele estava, ao que parecia a todos, bastante satisfeito com sua vida amável e auto-justificada. Sua esposa contara-me sobre sua ansiedade pela conversão dele, e seu filho expressara repeditamente temor, pois sabia que a auto-justiça de seu pai jamais seria superada, e sua amabilidade natural arruinaria sua alma.

 

Numa manhã de domingo, o Espírito Santo abriu o caso ao meu entendimento, e mostrou-me como cuidar disso. Em poucos instantes eu tinha tudo em minha mente. Desci e contei à senhora e seu filho o que estava prestes a fazer, e exortei-os a orar de coração por ele. Saí a seguir a ordem divina, e a Palavra apoderou-se dele de forma tão poderosa que passou uma noite em claro. Sua esposa me contou que ele passara uma noite de angústia, que sua auto-justiça fora aniquilada por completo, e que estava quase em desespero. Seu filho havia-me contado que por muito tempo ele se orgulhara de ser melhor do que os membros da igreja. Ele logo tornou-se claramente convertido, e teve uma vida cristã até o fim.

 

Antes que eu deixasse Tróia, uma moça, Srta. S, do Novo Líbano, no condado de Columbia, que era filha única de um dos diáconos ou presbíteros da igreja de lá, veio até a cidade, ao que pude saber, para comprar um vestido para um baile ao qual desejava ir. Ela tinha uma moça em Tróia que era sua parente, que era uma dentre os jovens convertidos, e uma cristã muito zelosa. Ela convidou a Srta. S para participar de todas as reuniões. Isso fez levantar-se a inimizade em seu coração. Ela resistiu muito, mas sua prima pelejava com ela para que ficasse dia após dia, e participasse das reuniões, até que, antes de ir embora, já estava completamente convertida a Cristo.

 

Logo que seus olhos se abriram e ela fez as pazes com Deus, foi imediatamente para casa, e começou a trabalhar por um avivamento naquele lugar. A religião no Novo Líbano estava, naquela época, muito decadente. Os jovens eram praticamente todos ímpios, e os velhos membros da igreja estavam em uma situação muito fria e ineficiente. O pai da Srta. S tornara-se muito formal, e por um longo tempo assuntos religiosos haviam sido muito negligenciados naquele lugar. Eles tinham um pastor de idade, um homem bom, eu creio, mas um homem que parecia não saber como realizar uma obra de avivamento.

 

A Srta. S começou primeiro em casa, rogando a seu pai que esquecesse sua velha oração, como ela mesma disse, e acordasse engajando-se na religião. Como ela era a queridinha da família, e em especial de seu pai, sua conversão e suas palavras afetaram-no grandemente. Logo ele se levantou, e tornou-se outro homem, com o forte sentimento de que deveriam ter um avivamento religioso. A filha foi também até a casa de seu pastor, e conversou com uma das filhas dele que estava em pecado. Ela logo se converteu, e ambas uniram-se em oração por um avivamento e começaram a trabalhar, de casa em casa, comovendo as pessoas.

 

No curso de uma ou duas semanas, tanto interesse fora incitado, que a própria Srta. S foi até Tróia, para implorar-me que fosse até lá pregar. O pastor e os membros da igreja haviam pedido-lhe para fazer isso. Eu fui e preguei. O Espírito do Senhor foi derramado, e o avivamento logo prosseguiu com grande poder. Muitos casos interessantes ocorreram quase todos os dias. Conversões repentinas multiplicavam-se, e uma grande e abençoada mudança veio sobre o aspecto religioso do lugar inteiro.

 

Aqui estávamos fora de uma região envenenada e levantada pela influência da oposição do Dr. Beecher e pelo Sr. Nettleton. Conseqüentemente ouvimos muito pouco sobre oposições nesse lugar durante o avivamento, especialmente da parte de professores de religião. Até onde eu fiquei sabendo, tudo parecia caminhar em harmonia na igreja. Em pouco tempo sentiram que precisavam muito de um avivamento, e pareciam estar muito gratos a Deus por visitá-los. A maioria dos homens proeminentes da comunidade converteram-se.

 

Entre esses havia um Dr. W, que era conhecido como um infiel. A princípio, manifestou bastante hostilidade com o avivamento, e disse que as pessoas estavam loucas. Mas ele foi feito um alvo especial de oração pela Srta. S e por mais algumas pessoas, que compadeciam-se de seu caso e que tinham muita fé de que ele, em pouco tempo, seria convertido mesmo com sua inflamada oposição. Certo domingo de manhã, ele foi à reunião, e eu pude ver o encargo daqueles que oravam por ele. Ficaram de cabeça baixa e intercedendo durante praticamente todo o sermão. Estava claro, que a oposição do doutor estava começando a ceder, bem antes de anoitecer. Durante o dia ele ouviu, e naquela noite sua mente passou com muita agitação. Na manhã seguinte veio visitar-me, quebrantado como uma criança, e confessou que estivera totalmente errado. Ele foi muito franco em abrir seu coração e ao declarar a mudança que viera sobre ele. Estava claro que ele era outro homem, e apartir daquele dia, abraçou a obra e prosseguiu com todas as suas forças.

 

Havia também um Sr. T, um mercante, provavelmente o cidadão mais rico e proeminente da cidade naquela época, mas um cético. Recordo-me de certa noite ter pregado sobre o texto: "Porquanto a inclinação da carne é inimizade contra Deus". Ele estava presente. Era um homem de ótima moral para os padrões comuns, e era muito difícil fazer com que qualquer coisa ficasse presa à sua mente, para convencê-lo do pecado. Sua esposa era uma mulher cristã, e o Senhor convertera sua filha. A situação na cidade e em sua família o interessara tanto, que ele vinha para a reunião escutar o que era dito. No dia seguinte a esse sermão sobre depravação moral, confessou-se convencido. Disse-me que o atingira com um poder irresistível. Viu que era tudo verdade, e assegurou-me que sua mente estava decidida a servir o Senhor pelo resto de sua vida.

 

Recordo-me também que John T. Avery, um reconhecido evangelista, que já trabalhara em muitos lugares por muitos anos, estava presente naquela reunião. Sua família vivia no Novo Líbano. Ele nascera e fora criado lá, e nessa época era um rapaz, de talvez quinze ou dezesseis anos de idade. Na manhã seguinte à pregação daquele sermão, ele veio até mim e era um dos mais interessantes jovens convertidos que jamais tinha visto. Ele começou a contar-me o que estava por sua mente há vários dias e então disse: "Eu estava totalmente envolvido no sermão e fui levado junto com ele. Eu pude entender tudo, como se houvesse sido direcionado para mim. Cedi e desisti de mim e entreguei tudo para Cristo." Isso ele disse de uma maneira que não posso esquecer. Mas por que devo multiplicar os casos? Poderia gastar horas relatando incidentes, e a conversão de alguns indivíduos específicos. Mas não devo entrar muito em particulares.

 

Mas devo mencionar um pequeno incidente, que teve uma certa conexão com a oposição que fora manifestada em Tróia. O presbitério de Columbia teve uma reunião, em algum lugar dentro do limite de sua região, enquanto eu estava no Novo Líbano, e sendo informados que eu estava trabalhando em uma de suas igrejas, nomearam um comitê para visitar o local e pesquisar sobre o estado das coisas, pois tinham sido levados a acreditar, por Tróia e por outros lugares e pela oposição do Sr. Nettleton e as cartas do Dr. Beecher, que meu método de conduzir avivamentos era tão questionável que seria dever do presbitério verificar. Nomearam dois de seus membros, como depois vim a saber, para visitar o lugar, e assim o fizeram. Depois eu soube, apesar de não me recordar ter escutado nada sobre isso na época, que as notícias dessa ação do presbitério chegaram ao Novo Líbano, e temia-se que isso criasse alguma divisão, ou perturbação, caso esse comitê realmente viesse. Alguns dos mais fervorosos cristãos fizeram disso um alvo particular de oração. Por um ou dois dias antes do dia esperado de sua chegada, oraram muito para que o Senhor tivesse controle sobre isso, e não permitisse que isso dividisse a igreja ou introduzisse nenhum elemento de discórdia. Esperava-se que o comitê chegasse ao domingo e participasse das reuniões. Mas um dia antes, uma violenta nevasca veio, e a neve ficou tão alta que eles viram que seria impossível chegar até lá, ficaram detidos no domingo, e na segunda-feira conseguiram voltar para suas próprias congregações. Aqueles irmãos eram o Rev. Sr. C e o Rev. J B. O Sr. C era pastor da igreja presbiteriana em Hudson, Nova Iorque, e o Sr. B era pastor da igreja presbiteriana em Chatham, um vilarejo a mais ou menos vinte e cinco quilômetros abaixo de Albany.

 

Pouco tempo depois disso, recebi uma carta do Sr. B, informando-me que o presbitério o havia indicado como parte de um comitê para me visitar, e fazer perguntas à população sobre meu modo de conduzir avivamentos, e convidando-me para ir passar um domingo com ele e pregar para ele. Assim eu fiz. Como depois eu soube, seu relatório para o presbitério dizia que não havia razão e era desnecessário que tomassem qualquer outra ação quanto ao caso, visto que o Senhor estava na obra e que deveriam cuidar para que não fossem achados em peleja contra Deus. Não soube de mais nenhuma oposição vinda dali. Jamais duvidei que o presbitério de Columbia estivesse honestamente alarmado com o que tinham escutado. Jamais questionei se o curso que tomaram fora apropriado ou não, e sempre admirei sua manifesta honestidade, ao aceitar o testemunho de suas próprias fontes. Até onde sei, eles depois simpatizaram-se com a obra que estava acontecendo.

 

Nessa época, uma proposta foi feita por alguém, não sei quem, que se realizasse uma convenção ou conferência sobre o assunto da condução de avivamentos.

 

A troca de correspondências começou entre os irmãos do Oeste que haviam-se envolvido naqueles avivamentos, e do Leste, que opunham-se a eles. Finalmente foi acertado que a convenção seria realizada num certo dia, creio que em julho, de 1827, no Novo Líbano, onde estivera trabalhando. Eu tinha saído do Novo Líbano e estava passando um curto período em um vilarejo de Little Falls, em Mohawk, perto de Utica. Alguns casos muito interessantes ocorreram lá em minha breve estadia, mas nada tão admirável para que encontrasse lugar nesta narrativa, pois fui obrigado a deixar o lugar depois de pouquíssimo tempo e retornar para o Novo Líbano, para participar da convenção.

 

Parecia que o objetivo dessa reunião sempre foi mal entendido por muitos. Descobri que a impressão geral do público era que alguma reclamação fora alegada contra mim, e que essa reunião seria um julgamento meu, diante de um conselho. Mas de maneira nenhuma esse era o caso. Não me envolvi em nada com a organização da convenção. Nem estava mais particularmente preocupado com seus resultados do que os outros membros que dela participavam. O objetivo era tratar dos fatos daqueles avivamentos que haviam recebido tanta oposição, conversar em referência a eles, comparar pontos de vista e ver se não podíamos chegar a um entendimento melhor do que o que existia, entre os opositores dos avivamentos vindos do Leste e os irmãos que vinham sendo usados como instrumento para promovê-los.

 

Cheguei ao Novo Líbano um ou dois dias antes do início da convenção. No dia marcado, os membros convidados chegaram. Não eram homens que foram indicados por nenhum corpo eclesiástico, mas haviam sido convidados pelos irmãos mais preocupados, do Leste e do Oeste, para reunirem-se e chegarem a um consenso. Nenhum de nós homens estávamos lá como representantes de quaisquer igrejas ou corpos eclesiásticos. Reunímo-nos sem qualquer autoridade de agir pela igreja, ou qualquer área dela, mas simplesmente, como já disse, para consultar, comparar visões, ver se havia algo errado de fato, e se houvesse, concordar em corrigir os erros, em ambos os lados. De minha parte, supunha que quando os irmãos se reunissem e expusessem suas idéias, e os fatos fossem entendidos, os irmãos do Leste que se opunham ao avivamento, especialmente o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton, veriam seus erros e que estavam enganados, e que a convenção seria dispensada, pois eu estava certo de que as coisas das quais eles reclamavam em suas cartas não tinham fundamento algum na verdade.

 

Dos irmãos que participavam dessa convenção, lembro-me do seguinte: do Leste, estavam o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton, Dr. Joel Hawes de Hartford, Dr. Dutton de New Haven, Dr. Humphrey, presidente da Faculdade Amherst, Rev. Justin Edwards de Andover, e um número considerável de outros membros cujos nomes não me recordo. Do Oeste, isto é, da área central de Nova Iorque, onde os avivamentos aconteciam no momento, estavam: Dr. Beman de Troy, Dr. Lansing de Auburn, Sr. Aiken de Utica, Sr. Frost de Whitesboro, Sr. Gillett de Roma, Sr. Coe de New Hartford, Sr. Gale de D'Oeste, Sr. Weeks de Paris Hill, e talvez alguns outros cujos nomes não me recordo agora, e eu.

 

Logo descobrimos que algumas políticas foram impulsionadas na organização da convenção, da parte do Dr. Beecher. No entanto, não prestamos atenção. A convenção foi organizada, e creio que o Dr. Humphrey presidiu como moderador. Que eu saiba, Não havia sequer o menor ressentimento entre os membros da convenção. É verdade que os irmãos do Oeste olhavam com um pouco de suspeita para o Sr. Weeks, como já comentei antes, como sendo o homem que fora responsável, em um grau considerável, pela inútil apreensão dos irmãos do Leste. Logo que a convenção estava devidamente organizada, e os assuntos a serem tratados declarados e entendidos, foi levantado o questionamento ao Dr. Beecher e ao Sr. Nettleton quando à fonte das informações que haviam recebido. Fomos particularmente solicitados para descobrir o que estava enganando aqueles irmãos e dando-lhes tal idéia dos avivamentos a ponto de fazê-los sentirem-se certos nas posturas que adotavam. Queríamos saber como e quando toda essa misteriosa oposição começara. Então perguntamos de uma vez, e pedimos para saber da parte dos irmãos de qual fonte haviam recebido suas informações, a respeito dos avivamentos. Descobriu-se logo de cara que era uma questão embaraçosa.

 

Eu deveria ter mencionado antes, e agora desejo ser distintamente compreendido ao dizer, que nenhuma oposição fora manifestada da parte dos pastores do Leste, que participavam da convenção, exceto pelo Dr. Beecher e pelo Sr. Nettleton. Não era difícil ver, a partir de um outro ponto de vista, que o Dr. Beecher sentia-se ameaçado, que sua reputação estava em jogo, e também que algumas de suas cartas, haviam chegado à imprensa, considerando-o responsável por elas, caso não houvesse provas de que haviam sido necessárias. Estava muito claro que ele e o Sr. Nettleton estavam muito sensibilizados. Também era óbvio que o Dr. Beecher havia assegurado a participação dos mais influentes pastores da Nova Inglaterra, a fim de apoiá-lo diante do público, e justificar-se a si mesmo pelo caminho seguido. Quanto ao Sr. Nettleton, o Dr. Beecher assegurara-lhe que seria apoiado pela Nova Inglaterra, e que todos lideres das igrejas da Nova Inglaterra sairiam em seu favor, apoiando-o.

 

Quando levantou-se a questão das fontes da informação, o Dr. Beecher respondeu: "Não viemos aqui para sermos catequizados, e nossa dignidade espiritual nos proíbe de responder a tais questões." De minha parte, achei estranho, sendo que tais cartas haviam sido escritas e publicadas aparentemente em oposição aos avivamentos, que tais coisas haviam sido afirmadas como fatos, sendo que não o eram, que tamanha tempestade de oposição fora levantada país a fora, que nos havíamos reunido para considerar toda a questão e que não nos seria permitido saber qual era a fonte de suas informações. Mas vimos que éramos completamente incapazes de saber qualquer coisa sobre isso.

 

A convenção reuniu-se por vários dias, mas conforme os fatos em relação aos avivamentos iam ficando claros, O Sr. Nettleton ficava muito nervoso, pois não conseguia participar de muitas de nossas sessões. Ele viu claramente que estava perdendo terreno, e que nada poderia ser determinado que pudesse justificar a postura que adotara. Isso deve ter sido muito visível também para o Dr. Beecher.

 

Eu deveria ter dito antes, que quando toda a questão apareceu, como os fatos foram sabidos sobre os avivamentos, que o Dr. Beecher disse que o testemunho daqueles irmãos do Oeste, que haviam-se envolvido na promoção dos movimentos, não deveria ser aceito, pois, já que éramos, em certo sentido, de partidos diferentes em uma mesma questão, e éramos em pessoa, o objeto de sua censura, seria como testemunhar em nosso próprio julgamento, que não éramos portanto admissíveis como testemunhas, e os fatos não deveriam ser recebidos de nossa parte. Mas os irmãos do Leste não escutaram nem por um segundo. O Dr. Humphrey firmemente comentou que éramos as melhores testemunhas que poderiam existir, que sabíamos o que havíamos feito, e o que havia sido feito naqueles avivamentos religiosos, que éramos, portanto, as testemunhas mais competentes e dignas de crédito e que nossas declarações deveriam ser aceitas sem hesitação pela convenção. A isso, até onde sei, houve uma concordância geral, com a exceção do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton.

 

Essa decisão, contudo, ficou muito claro na hora e afetou grandemente ambos. Eles viram que se os fatos dos irmãos, que testemunharam os avivamentos, fossem expostos e que estiveram presentes e sabiam tudo sobre eles, todos os enganos, dúvidas e erros sobre o assunto, poderiam ser inteiramente superados. Nossa reunião foi muito fraternal até o fim. Não houve manifestação de disputa ou ressentimentos, mas, com exceção dos irmão que já mencionei, Dr. Beecher e Sr. Nettleton, os irmãos do Leste pareciam muito sinceros, desejosos para saber a verdade, e felizes em saberem dos detalhes sobre os avivamentos do Oeste.

 

Muitos pontos foram discutidos durante a convenção, um em especial sobre a propriedade de mulheres terem qualquer participação em reuniões sociais. O Dr. Beecher mencionou essa objeção, e discutiu extensivamente, insistindo nela, dizendo que tal prática ia de encontro com as Escrituras e eram inadmissíveis. Dr. Beman respondeu-lhe com um curto comentário, mostrando conclusivamente, que essa prática era comum aos apóstolos e que no capítulo onze de Coríntios, o apóstolo chamou a atenção da igreja para o fato que mulheres cristãs haviam chocado as idéias orientais, por sua prática de participarem e orarem em suas reuniões religiosas, sem seus véus. Ele mostrou claramente que o apóstolo não estava reclamando de suas participações, mas do fato de deixarem de lado seus véus, o que causara um choque na opinião predominante, e ocasionara a desgraça de opositores gentios. O apóstolo não reprovava a sua prática de oração, mas simplesmente as admoestava a usarem seus véus quando o fizessem. A essa réplica do Dr. Beman, nenhuma resposta foi feita ou mesmo tentada. Era conclusiva demais para admitir qualquer refutação.

 

Perto do final da convenção, o Sr. Nettleton entrou claramente muito agitado, e disse que agora explicaria para a convenção as razões que tivera para seguir o caminho que seguiu. Ele tinha algo que chamava de uma carta histórica, na qual declarava dar as razões e declarar os fatos sobre os quais apoiava sua oposição. Fiquei feliz em ouvir que ele desejava ler sua carta para a convenção. Uma cópia dela fora enviada para o Sr. Aiken, quando eu ainda trabalhava com ele em Utica e ele a havia entregue a mim. Eu a tinha em minhas mãos na convenção, e mostrá-la-ia no tempo certo, caso o Sr. Nettleton não o tivesse feito.

 

Ele prosseguiu a ler sua carta. Era uma declaração, sob tópicos definidos, das coisas de que ele reclamava e que fora informado que eram praticadas por nós, especialmente por mim, naqueles avivamentos. Era evidente que a carta era direcionada para mim, em particular, apesar de ter sido poucas vezes mencionado nela, nominalmente. Ainda assim as coisas reclamadas foram de tal forma apresentadas, que não havia como não entender o objetivo. A convenção escutou atentamente toda a carta, que era um longo sermão. O Sr. Nettleton então comentou que a convenção tinha diante de si os fatos sobre os quais ele agira, e que supunha terem exigido e justificado suas ações.

 

Quando se assentou, eu levantei-me, expressei minha satisfação por aquela carta ter sido lida, comentei que tinha uma cópia dela, e leria no momento certo, se o Sr. Nettleton não o tivesse feito. Então afirmei que até onde ia meu conhecimento pessoal, nenhum dos fatos ali mencionados e reclamados era verdade. E adicionei "Todos os irmãos com quem fiz essas obras estão aqui, e eles sabem se tais acusações são cabíveis a mim ou não, em todas as suas congregações. Se eles souberem ou acreditarem que qualquer dessas coisas é verdade sobre mim, que falem aqui e agora."

 

Todos de uma vez confirmaram, seja por dizer, ou por manifestar consentimento, que não sabiam de nada disso. O Sr. Weeks estava presente e, portanto, eu esperava que se qualquer coisa fosse dita para contrariar minha explícita negação de todos os fatos acusados pela carta do Dr. Nettleton, a meu respeito, viria dele. Eu supunha que se ele tivesse escrito para o Dr. Beecher ou para o Sr. Nettleton, confirmando tais fatos, ele ia se sentir na obrigação de falar, naquela hora e lugar, para justificar o que escrevera. Mas ele não disse nenhuma palavra. Ninguém ali fingia justificar uma frase sequer da carta histórica do Sr. Nettleton que dizia respeito a mim. Isso, é claro e foi estarrecedor para o Sr. Nettleton e para o Dr. Beecher. Se qualquer um de seus supostos fatos fossem recebidos do Sr. Weeks, sem dúvida esperavam que ele falasse, justificando o que escrevera, mas ele não disse nada comentando que tinha qualquer conhecimento dos fatos que o Sr. Nettleton apresentara em sua carta. A leitura dessa e o que seguiu, prepararam o caminho para o encerramento da convenção.

 

E agora seguem algumas coisas que sinto muito ser obrigado a mencionar. O Sr. Justin Edwards estivera presente durante todas as discussões, e participara, creio eu, de todas as sessões da convenção. Ele era um amigo muito íntimo do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton, e deve ter visto claramente como tudo foi apresentado. Não sei pela sugestão de quem, perto do encerramento da convenção, ele apresentou uma série de resoluções, na qual, passo a passo, ele resolvia desaprovar tal e tal medidas na promoção dos avivamentos. Ele abrangeu, em suas resoluções, quase, senão todas as especificações contidas na carta histórica do Sr. Nettleton, desaprovando todas as coisas das quais ele reclamara.

 

Quando terminou de ler, imediatamente vários irmãos do Oeste disseram "Aprovamos essas resoluções, mas qual é o objetivo delas? É claro que seu objetivo é fazer com que o povo pense que tais coisas foram praticadas, que esta convenção, condenando tais práticas, condena os irmãos que se envolveram nesses avivamentos e que essa convenção justifica, portanto, a oposição feita." O Dr. Beecher insistia que o objetivo das resoluções era inteiramente prospectivo, que nada estava dito ou implícito em respeito ao passado, mas que deveriam servir meramente como diretrizes, para que soubessem que a convenção desaprovava tais coisas, caso viessem a existir, sem implicação alguma que tais coisas jamais haviam sido feitas.

 

A réplica foi imediata, de que a partir do fato de tais reclamações terem sido expostas, e que era público e notório que tais acusações haviam sido feitas, estava evidente que tais resoluções tinham o objetivo de apoiar os irmãos que fizeram a oposição, e de causar a impressão que tais coisas condenadas ali, haviam sido realizadas nos avivamentos. De fato estava perfeitamente claro que aquele era o objetivo daquelas resoluções da parte do Sr. Beecher e do Sr. Nettleton.

 

Os irmãos do Oeste disseram "Claro que votaremos por essas resoluções. Acreditamos nessas coisas tanto quanto vocês, e desaprovamos as práticas condenadas nessas resoluções tanto quanto vocês, portanto não podemos evitar votar por elas. Mas acreditamos que elas têm o objetivo de justificar essa oposição, tendo uma aplicação retrospectiva, e não prospectiva." Contudo, aprovamos as resoluções, creio que por unanimidade e recordo-me de dizer que, de minha parte, estava disposto a passar tais resoluções adiante, e que todos os fatos deveriam ser deixados para a publicação e sentença do julgamento solene. Eu então propus que, antes que terminássemos, aprovássemos uma resolução contra toda mornidão em religião, condenando-a tão fortemente quanto qualquer uma das práticas mencionadas na resolução. Dr. Beecher declarou que não havia perigo algum de mornidão e o porquê da convenção ter sido adiada por tempo indeterminado.

 

Como a publicação de todos os procedimentos foi recebia pelo público, não preciso dizer. No segundo volume da biografia do Dr. Beecher, página 101, encontro a seguinte nota do editor. Ele diz "Uma leitura cuidadosa das minutas dessa convenção convenceu-nos de que não havia diferenças radicais de opiniões entre os irmãos do Oeste e aqueles da Nova Inglaterra, e que pela influência de apenas um indivíduo, o mesmo acordo pode ter sido estabelecido ali, que veio a ser efetivo mais tarde, na Filadélfia." Isso é sem dúvida, verdade. O fato é que se o Sr. Nettleton não tivesse dado ouvidos a falsos testemunhos, e não se comprometesse contra os avivamentos, nenhuma convenção sobre o assunto seria realizada ou imaginada. Foi afinal maravilhoso que ele tenha acreditado em tais relatórios, pois já fora muitas vezes objeto de incontáveis representações erradas. Mas ele estava quase esgotado, tornara-se excessivamente nervoso, e é claro, temeroso, facilmente agitado, e ademais tinha a fraqueza atribuída a ele, pelo Dr. Beecher em sua biografia, de nunca desistir de sua própria vontade. Tenho certeza que digo isso com sentimentos inteiramente gentis em relação ao Sr. Nettleton, pois jamais tive outros.

 

Depois dessa convenção, a reação do público foi surpreendente. No final do verão desse mesmo ano, encontrei o Sr. Nettleton na cidade de Nova Iorque. Ele me disse que estava lá para dar suas cartas contra os avivamentos do Oeste ao público, na forma de panfletos. Perguntei-lhe se ele iria publicar sua carta histórica que havia lido diante da convenção. Ele disse que devia publicar suas cartas, para justificar o que fizera. Eu lhe disse que se publicasse aquela carta, seria negativa para ele mesmo, pois todos os que participaram dos avivamentos veriam que ele não tinha razão alguma. Ele respondeu que precisava publicar suas cartas, e arriscaria a reação. Publicou muitas outras cartas, mas aquela, não, até onde pude saber. Se fosse verdade, sua publicação causaria a impressão de que sua oposição fora necessária. Mas sendo que nada foi verdade, fez bem em não publicá-la.

 

Aqui devo fazer uma pequena menção a algumas coisas que encontro na biografia do Dr. Beecher, sobre as quais creio que houveram alguns mal-entendidos. A biografia o apresenta como tendo justificado sua oposição aos avivamentos &endash; isto é, à maneira na qual foram conduzidos &endash; até o dia de sua morte, e como tendo provado que os maus dos quais reclamava foram reais e corrigidos pela oposição. Se essa foi sua opinião depois daquela convenção, ele ainda deve ter acreditado que os irmãos que testemunharam que tais coisas não haviam sido feitas eram um bando de mentirosos e deve ter rejeitado completamente nosso testemunho único. Mas sendo que ele e o Sr. Nettleton estavam extremamente ansiosos para justificar sua oposição, se ainda acreditavam que aquelas declarações na carta história eram verdade, por que não a publicaram, e apelaram àqueles que estavam na região e que testemunharam os avivamentos? Se a carta fosse verdade, sua publicação seria sua justificação. Se ainda acreditavam que ela fosse verdade, por que ela não foi publicada com as outras cartas do Sr. Nettleton? Concluí que os desenvolvimentos feitos naquela convenção abalaram a confiança do Dr. Beecher na sabedoria e justiça da oposição do Sr. Nettleton, pelo fato de tê-lo escutado comentar enquanto eu trabalhava em Boston, um ano e meio depois da convenção, e depois da publicação das cartas, que depois daquilo, não enviaria o Sr. Nettleton a Boston nem por mil dólares. Será que é possível que, até sua morte, Dr. Beecher continuou a acreditar que os pastores daquelas igrejas onde os avivamentos ocorreram eram mentirosos, e não eram dignos de crédito no que dizia respeito aos fatos que deveriam estar dentro de seu conhecimento particular?

 

Encontro nas biografias do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton, muitas reclamações sobre o mal espírito que prevalecia naqueles avivamentos. O erro deles está em atribuir um espírito de denúncia ao lado errado. Jamais ouvi o nome de nenhum dos dois mencionado durante aqueles avivamentos, em público, que eu me lembre, e certamente não com um sentido de censura. Eles nunca, nem mesmo em conversas particulares, foram mencionados, ao que sei, com ressentimento. Os amigos e promotores desses avivamentos tinham um doce espírito cristão, e o mais distante possível de serem denunciantes. Se esse fosse o caso, tais abençoados avivamentos jamais poderiam ter sido promovidos por eles, e jamais teriam sido tão gloriosos quanto foram. Não, a denúncia estava no lado da oposição. Uma citação da biografia do Dr. Beecher ilustrará o ânimo da oposição. No segundo volume, página 101, ele é representado como se falando a mim, na convenção no Novo Líbano "Finney, eu sei do seu plano, e você sabe que sei, você pretende vir para Connecticut, e levar um raio de fogo para Boston. Mas se você tentar fazer isso, como vivo está o Senhor, digo que encontrarei contigo na fronteira do estado, e chamarei a artilharia, e lutarei por cada centímetro do caminho para Boston, e então lutarei ali com você." Eu não me lembro disso, mas se o Dr. Beecher se lembra, deixe que ilustre o espírito de sua oposição. O fato é que, ele estava grosseiramente enganado em todos os passos do caminho. Eu não tinha o objetivo nem o desejo de ir até Connecticut, nem a Boston. O sobrescrito, e muitas outras coisas que encontro em sua biografia, mostram como ele estava completamente enganado, e quão inteiramente ignorante era sobre o caráter, motivos e ações daqueles que haviam trabalhado nesses gloriosos avivamentos. Escrevo essas coisas sem nenhum prazer. Encontro muita coisa que me surpreende nessas biografias, e que me leva à conclusão que, por algum erro, o Dr. Beecher foi mal entendido e representado. Mas passo a outros assuntos.

 

Depois dessa convenção não ouvi mais nada sobre a oposição do Dr. Beecher e do Sr. Nettleton. A oposição naquela forma gastara-se a si mesma. Os resultados dos avivamentos foram tais a ponto de calar a boca dos maldizentes, e convencer a todos que eram de fato gloriosos e puros avivamentos religiosos, e tão distante de qualquer coisa questionável quanto qualquer avivamento já visto nesse mundo. Que qualquer um que leia Atos dos Apóstolos, e os registros dos avivamentos de seus dias e então que leiam o que dizem em suas epístolas, sobre a reação, deslizes, e apostasias que seguiram. Que descubram a verdade a respeito dos gloriosos avivamentos sobre os quais tenho escrito, seu início, progresso, e resultados, que têm sido cada vez mais manifestos por quase quarenta anos, e não poderão deixar de ver que esses avivamentos foram tão verdadeiramente de Deus quanto aqueles.

 

Avivamentos devem crescer em pureza e poder, como a inteligência aumenta. Os convertidos nos tempos apostólicos ou eram judeus, com todo seu preconceito e ignorância, ou gentios desgraçados. A arte da impressão ainda não fora descoberta. Cópias do Antigo Testamento palavra escrita de Deus não existiam, senão em poder dos ricos que podiam comprar cópias manuscritas. O Cristianismo não tinha nenhuma literatura acessível às massas. Os meios de instrução não estavam à mão. Com tanta escuridão e ignorância, com tantas falsas noções de religião, com tanto para enganar e degradar, e tão poucas facilidades para sustentar a reforma religiosa, não era de se esperar que os avivamentos religiosos fossem puros e livres de erros.

 

Nós temos e pregamos o mesmo Evangelho daqueles apóstolos. Temos todas as facilidades de prevenir erros na doutrina e na prática, e de assegurar uma religião Evangélica sólida e sincera. As pessoas em meio as quais esses grandes avivamentos prevaleceram eram cultas e inteligentes. Não tinham apenas a educação secular, mas também a religiosa, abundando em meio de si. Praticamente todas as igrejas tinham um pastor estudado, capaz e cheio de fé. Esses pastores eram perfeitamente capazes de julgar a solidez e discrição de um evangelista, cujos trabalhos desejava aproveitar. Eram capazes de julgar quais seriam os métodos apropriados a serem empregados. Deus colocou Seu selo sobre as doutrinas que foram pregadas, e nos meios que foram utilizados para levar adiante essa grande obra, de uma maneira absolutamente impactante e admirável. Os resultados são agora encontrados por todo país. Os convertidos daqueles avivamentos ainda vivem hoje, e trabalham na obra de Cristo por almas, em quase, senão em todos os Estados desta União. Isso é apenas para dizer que eles estão entre os cristãos mais usados e inteligentes neste, ou em qualquer outro país.

 

Considerando que já trabalhei extensivamente neste país, e na Grã-Bretanha, e que nenhuma atitude foi tomada quanto à meus métodos, concluiu-se e declarou-se que desde a oposição feita pelo Sr. Nettleton e pelo Dr. Beecher, eu havia sido reformado, e desistira dos métodos dos quais eles reclamavam. Isso é um grande erro. Sempre e em todos os lugares, utilizei todas as mesmas medidas que foram usadas naqueles avivamentos e muitas vezes introduzi novos meios, sempre que achei oportuno. Nunca vi a necessidade de reforma nesse aspecto. Vivesse eu toda minha vida novamente, creio que, com a experiência de mais de quarenta anos em obras de avivamento, usaria, sob as mesmas circunstâncias, substancialmente os mesmos métodos que utilizei.

 

E que não se entenda que tomo para mim o crédito. De fato não. Não era sabedoria alguma de minha parte que me direcionava. Senti minha ignorância e dependência, e fui levado a olhar para Deus continuamente buscando Sua liderança. Eu não tinha dúvidas na época, nem tenho agora, que o Senhor me guiava por Seu Espírito, para seguir o caminho que segui. Ele me guiou tão claramente dia após dia, que jamais pude duvidar de ser divinamente dirigido.

 

Que os irmão que se opunham àqueles avivamentos eram homens bons, não tenho dúvida. Que estavam enganados, grosseira e injuriosamente errados, também não. Se morreram acreditando que tinham razões justas para terem feito o que fizeram, escreveram, disseram, e que corrigiram os maus dos quais reclamavam, morreram grosseiramente enganados a esse respeito. Não é pela segurança da igreja, pela honra dos avivamentos ou pela glória de Cristo que a posteridade deve acreditar que tais maus existiram e foram corrigidos, por um espírito tal, e de uma maneira tal como foi representado. Permaneceria eu em silêncio, se um esforço tão destacado não tivesse sido feito para perpetuar e confirmar a ilusão de que a oposição àqueles avivamentos fora justificável e bem-sucedida, pois de fato, não era nenhum dos dois.

 

Não tenho dúvidas que de Dr. Beecher foi levado, por alguém, a acreditar que sua oposição era necessária. Com base em sua biografia, parece que na Filadélfia, na primavera seguinte à convenção, houve um acordo entre ele, o Dr. Beman e outros, de esquecerem o assunto, e não mais publicar nada sobre esses avivamentos. A verdade é que, toda a controvérsia e todas as publicações foram feitas do lado da oposição. Antes da reunião na Filadélfia, o Sr. Nettleton publicara suas cartas, e não vi mais nada publicado sobre o assunto.

 

Eu não era parte do acordo firmado na Filadélfia, não obstante, se a biografia do Dr. Beecher não reabrisse esse assunto com o claro objetivo de justificar a postura que adotara, revivendo a impressão sobre a mente das pessoas que ao fazer a oposição ele executara uma grande e boa obra, não me sentiria obrigado a dizer, o que agora não posso justificar calar. Escrevo por experiência própria, e para mim não importa quem possa ter dado ao Dr. Beecher, os supostos fatos sobre os quais ele agia. Aqueles fatos declarados não eram fatos, como declarei antes da convenção e sim uma declaração a qual fora confirmada por todos os irmãos com quem já trabalhara. Isso era prova de que qualquer coisa pode ser provada pelo testemunho humano. Nesse testemunho, ao que parecia, o Dr. Beecher não acreditava, caso seu biógrafo não o tenha mal-interpretado. E o que dirão as igrejas no condado de Oneida quanto a isso? Será que podem acreditar que homens, como o Rev. Dr. Aiken, o Rev. John Frost, Rev. Moses Gillett, Rev. Sr. Coe, e os outros homens daquele condado, que participaram da convenção, mentiram deliberadamente sobre um assunto que era de seu conhecimento pessoal? Não importa quem eram os informantes do Dr. Beecher, certamente nenhum dos pastores daqueles lugares onde prevaleceram os avivamentos jamais deu-lhe qualquer informação que justificasse sua conduta, e homem nenhum entendia o assunto tão bem quanto eles. Concordo que, como a convenção decidira, eles eram as melhores testemunhas que podiam existir do que foi dito e feito em suas próprias congregações, e seus testemunhos foram unânimes em dizer que tais acusações jamais foram fundadas em fatos.

 

Eu tinha lido as fortes, e mesmo terríveis acusações contra os irmãos que trabalhavam naqueles avivamentos, contidas na carta do Dr. Beecher para o Dr. Taylor, na qual ele declara que sua correspondência justificará sua conduta e o que escrevia contra aqueles irmãos. Quando eu soube que esse assunto seria aberto ao público na biografia do Dr. Beecher, esperei que, pelo menos, chegaríamos aos autores daqueles relatórios, pela publicação de sua correspondência. Mas não vejo nada em sua correspondência para justificar sua atitude. Será que essas acusações devem ser virtualmente repetidas e estereotipadas, e a correspondência pela qual foi considerada justificada, ocultada? Se, como parece, o Dr. Beecher, até o dia de sua morte, continuou a rejeitar nosso unido testemunho, não é nosso direito saber de quem é o testemunho que impede o nosso?

 

Na página 103 do segundo volume da auto-biografia do Dr. Beecher, lemos o seguinte: "Na primavera de 1828, disse o Dr. Beecher em conversa sobre o assunto, eu descobri que os amigos do Sr. Finney estavam alinhando seus planos para causar uma impressão na assembléia geral, que foi realizada na Filadélfia, e para colocar um de seus homens no lugar do Sr. Skinner. A igreja do Skinner acabara de convidar-me para pregar para eles, e escrevi respondendo que supriria, se assim desejassem, enquanto a assembléia estava em sessão. Isso bloqueou as rodas de alguém. Eu fiquei até o final, quando Beman pregou por metade de um dia. Isso derrotou seus planos. Eles falharam." O quê isso significa, não sei dizer. Ao ler o sobrescrito, e o que segue até o fim do capítulo, junto com o que encontro em outras partes sobre o assunto nessa biografia, fico estarrecido em vista das suspeitas e ilusões sob as quais a mente do Dr. Beecher estava trabalhando. Se qualquer um dos meus amigos estivesse tentando tomar o lugar no púlpito do Dr. Skineer, que acabara de ficar vago, não me lembro de ouvir nenhum comentário. Eu era, naquela época, um ministro na igreja Presbiteriana, e estava pregando na Filadélfia quando a assembléia estava em sessão, e enquanto o Dr. Beecher estava lá. Eu era tão ignorante quanto uma criança sobre todo esse planejamento revelado na biografia. Eu não compartilhava de nenhum dos terrores e distrações que pareciam perturbar tanto o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton. Se qualquer um de meus amigos compartilhava do estado mental desses irmãos, eu não sabia.

 

Os registros fiéis de minhas obras até o momento da convenção, e dali por diante, mostrarão quão pouco eu sabia ou me importava com o que o Dr. Beecher e o Sr. Nettleton faziam ou falavam sobre mim. Bendigo o Senhor pois fui guardado de ser distraído de minha obra por sua oposição, e nunca fiquei de modo algum desconfortável sobre isso. Quando ainda estava em Auburn, como já relatei, Deus havia-me dado a certeza de que Ele sucumbiria toda oposição, sem que eu me desviasse para responder a meus opositores. Disso jamais me esqueci. Sob essa segurança divina fui adiante com uma só visão, e um espírito confiante; e hoje quando leio das agitações, suspeitas e apreensões errôneas que possuíam as mentes desses irmãos, fico pasmo com sua ilusão e conseqüente ansiedade, a respeito de mim e de minhas obras. Na mesma época em que o Dr. Beecher estava na Filadélfia, lidando com membros da assembléia geral, como relatado em sua biografia, eu já trabalhava naquela cidade há vários meses, em diferentes igrejas, no meio de um poderoso avivamento religioso, perfeitamente ignorante quanto à pequena missão do Dr. Beecher ali. Não posso ser grato o suficiente a Deus por ter-me guardado da agitação, e de mudanças em meu espírito, ou visões da obra, por toda a oposição daqueles dias.

 

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