A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO XVIII.

 
OS AVIVAMENTOS EM WILMINGTON E NA FILADÉLFIA.

 

Enquanto eu estava trabalhando no Novo Líbano, no verão anterior, o Rev. Sr. Gilbert de Wilmington, Delaware, cujo pai morava no Novo Líbano, foi até lá para uma visita. O Sr. Gilbert era muito tradicional em suas visões teológicas, mas um homem bom e honesto. Seu amor pelas almas superava qualquer dificuldade em questões de diferenças teológicas, entre eu e ele. Ouviu-me pregar no Novo Líbano e viu os resultados, e foi muito sincero em dizer que eu deveria ir ajudá-lo em Wilmington.

 

Logo que pude ver que meu caminho estava aberto para sair de Stephentonw, então, fui para Wilmington e comecei na obra com o Sr. Gilbert. Em pouco tempo percebi que seus ensinamentos haviam colocado a igreja em uma posição que impossibilitava a promoção de um avivamento em seu meio, até que suas visões pudessem ser corrigidas. Eles pareciam ter medo de fazer qualquer esforço, temendo tirar a obra das mãos de Deus. Tinham as mais antigas das visões doutrinárias, conseqüentemente sua teoria era que Deus converteria os pecadores a Seu tempo, e portanto insistir que se arrependessem imediatamente e em suma tentar promover um avivamento, e tentar fazer cristãos por ações humanas e forças humanas, desonrando assim a Deus, ao tirar a obra de Suas mãos. Percebi também que em suas orações não havia urgência pelo derramamento do Espírito, e que tudo isso estava de acordo com as idéias nas quais foram instruídos.

 

Estava claro que nada poderia ser feito, a menos que as visões do Sr. Gilbert fossem mudadas a respeito do assunto. Portanto eu passei horas, todos os dias, conversando com ele sobre suas visões peculiares. Falamos sobre todo o assunto de uma maneira fraternal, e depois de trabalhar assim com ele por duas ou três semanas, vi que sua mente estava preparada para ter meus pontos de vista apresentados a seu povo. No domingo seguinte, tomei como texto "Criai em vós um coração novo e um espírito novo, pois por que razão morreríeis?" Entrei com detalhes no assunto da responsabilidade do pecador, mostrei o que não é um novo coração, e o que é. Preguei por mais ou menos duas horas, e não me assentei até ter sido minucioso em todo o assunto, da maneira mais rápida que pude, naquele período de tempo.

 

A congregação ficou intensamente interessada, e muitos se levantavam e ficavam de pé em todas as partes da casa. A casa estava completamente cheia, e havia olhares estranhos na assembléia. Alguns pareciam angustiados e ofendidos, outros muito interessados. Não raro, quando eu apresentava o forte contraste entre minhas próprias visões, e as visões nas quais haviam sido instruídos, alguns riam, alguns choravam, outros ficavam abertamente bravos, mas não me recordo de ninguém ter saído do lugar. Era uma estranha agitação.

 

Enquanto isso, o Sr. Gilbert passou de uma ponta do sofá para a outra, no púlpito atrás de mim. Eu podia ouví-lo respirando e suspirando, e não pude deixar de observar que também estava muito ansioso. Contudo, eu sabia que o tinha, em suas convicções, rápido, mas se ele se decidia a considerar o que falavam por causa de seu povo, eu não sei. Mas eu estava pregando para agradar ao Senhor, e não o homem. Pensei que pudesse ser a última vez que pregaria lá, mas sempre me propus, em todas as circunstâncias, a falar-lhes a verdade, toda a verdade, sobre aquele assunto, fosse qual fosse o resultado.

 

Esforcei-me para mostrar que se o homem fosse tão indefeso, quando seus pontos de vista o apresentavam, não deveria ser culpado por seus pecados. Perdera-se em Adão toda a capacidade de obediência, de forma a tornar-se impossível para ele, não por sua ação ou consentimento, mas por causa da ação da Adão, era meramente falta de juízo dizer que ele poderia ser culpado por algo que não poderia evitar. Esforcei-me também para mostrar que, nesse caso, a redenção não era graça nenhuma, mas na verdade um pagamento de dívida para a humanidade, da parte de Deus por tê-la colocado em uma condição tão deplorável e desafortunada. De fato, o Senhor me ajudou a mostrar, creio que com uma clareza irresistível, os dogmas peculiares do tradicionalismo e seus resultados inevitáveis.

 

Quando terminei, não chamei o Sr. Gilbert para orar, não ousei fazer isso, mas eu mesmo orei para que o Senhor reforçasse a Palavra, fizesse-a a ser compreendida, e desse uma mente pura para pesar o que fora dito, para receber a verdade, e rejeitar que pudesse ser errado. Então, dispensei a assembléia e desci do púlpito com o Sr. Gilbert a me seguir. A congregação retirou-se muito devagar, e muitos pareciam estar esperando por alguma coisa, em todas as partes da casa. Os corredores estavam quase vazios, e o resto da congregação parecia permanecer em uma posição de espera, como se esperassem ouvir o Sr. Gilbert comentar o que fora dito. A Sra. Gilbert, no entanto, saiu imediatamente.

 

Conforme desci do púlpito, observei duas senhoras a quem fora apresentado, e que sabia que eram amigas particulares e partidárias do Sr. Gilbert, sentadas do lado esquerdo do corredor por onde tínhamos que passar. Vi que pareciam muito aflitas, um pouco ofendidas, e grandemente assustadas. A primeira que alcançamos, que estava perto das escadas do púlpito, chamou a atenção do Sr. Gilbert que vinha atrás de mim, e disse-lhe "Sr. Gilbert, o que o senhor acha disso?" Ela falou com uma voz baixa. Ele respondeu da mesma maneira "Vale quinhentos dólares." Isso me gratificou grandemente, e afetou-me muito. Ela replicou "Então o senhor nunca pregou o Evangelho." "Bem," disse ele, "sinto dizer que nunca preguei." Continuamos, e então, a outra senhora, disse-lhe quase as mesmas coisas e recebeu uma resposta parecida. Aquilo foi suficiente para mim. Abri meu caminho até a porta e saí. Muitos daqueles que haviam saído estavam parados na frente da igreja, discutindo veementemente o que fora dito. Conforme passei pelas ruas, a caminho da casa do Sr. Gilbert, onde estava hospedado, encontrei as ruas cheias de agitação e discussão. As pessoas estavam comparando os pontos de vista, e das poucas palavras que escaparam daqueles que não percebiam que eu passava, vi que a impressão era claramente favorável ao que dissera.

 

Quando cheguei à casa do Sr. Gilbert, sua esposa dirigiu-se a mim logo que entrei, dizendo "Sr. Finney, como ousou pregar tais coisas em nosso púlpito?" Eu respondi "Sra. Gilbert, eu não ousaria pregar nada mais, isso é a verdade de Deus." Ela replicou "Bem, é verdade que Deus estava dedicado à justiça ao fazer a remissão para a humanidade. Sempre senti isso, apesar de jamais ousar dizê-lo. Eu acreditava que se a doutrina pregada pelo Sr. Gilbert fosse verdade, Deus tinha a obrigação, como uma questão de justiça, de fazer uma remissão, e de me salvar daquelas circunstâncias nas quais me era impossível controlar a mim mesma, e de uma condenação que eu não merecia.".

 

Nesse exato momento, o Sr. Gilbert entrou. "Pronto," disse eu "irmão Gilbert, o senhor vê os resultados de sua pregação aqui em sua própria família." e então repeti para ele o que sua esposa acabara de dizer. Ele respondeu "Eu algumas vezes pensei que minha esposa fosse a mulher mais devota que já conheci, e outras vezes, pensei que não tivesse religião alguma." Eu exclamei "Ora! Ela sempre pensou que Deus lhe devia, como uma questão de justiça, a salvação oferecida em Cristo. Como pode ser uma cristã?" Tudo isso foi dito por cada um de nós com grande solenidade e honestidade. Depois de meu último comentário, ela se levantou e saiu da sala. A casa estava muito solene, e por dois dias, creio eu, não a vi. Ela então assumiu, não somente em verdade, mas no estado de sua própria mente, ter passado por uma completa revolução de visões e experiência.

 

A partir disso, a obra progrediu. A verdade foi trabalhada de forma admirável pelo Espírito Santo. As idéias do Sr. Gilbert foram totalmente mudadas, bem como seu estilo de pregar e maneira de apresentar o Evangelho. Até onde sei, até o dia de sua more, suas visões permaneceram corretas, renovadas em relação às tradicionais que antes defendia.

 

O efeito desse sermão sobre muitos dos membros da igreja do Sr. Gilbert foi muito peculiar. Já falei da senhora que lhe perguntou o que ele achava daquilo. Ela depois me disse que ficara tão ofendida ao pensar que todos os seus pontos de vista foram tão descartados, que prometera a si mesma jamais orar novamente. Ela tinha o hábito de até então justificar-se por causa de sua natureza pecaminosa, e tomara em sua própria mente, a mesma oposição da Sra. Gilbert, que minha pregação sobre aquele assunto subvertera completamente suas visões, sua religião e tudo mais. Ela permaneceu nesse estado de rebelião, se bem me lembro, por umas seis semanas, antes que conseguisse orar novamente. Ela então se quebrantou e foi plenamente transformada em suas visões e experiência religiosa. E esse, creio eu, foi o caso de vários membros daquela igreja.

 

Enquanto isso eu havia sido induzido a subir e pregar pelo Sr. Patterson, na Filadélfia, duas vezes por semana. Eu ia até lá no barco a vapor e pregava ao anoitecer, retornava no dia seguinte e pregava em Wilmington, alternando assim meus cultos vespertinos entre Wilmington e Filadélfia. A distância era de mais ou menos sessenta e cinco quilômetros. A Palavra teve tanto efeito na Filadélfia a ponto de convencer-me que era meu dever deixar a cargo do Sr. Gilbert que continuasse com a obra em Willmington, para dedicar-me em tempo integral à obra na Filadélfia.

 

O Rev. James Patterson, com quem a princípio trabalhei lá, defendia as visões de teologia na época defendidas em Princeton, desde então conhecida como a teologia dos Presbiterianos tradicionais. Mas ele era um homem de Deus, e importava-se muito mais com a salvação das almas do que com belas questões de habilidade e incapacidade, ou qualquer um dos pontos da doutrina sobre os quais os tradicionais e os renovados discordavam. Sua esposa defendia as visões teológicas da Nova Inglaterra, isso até, ela acreditava em uma remissão geral, e não restrita, e concordava com o que era chamado de ortodoxia da Nova Inglaterra, diferente da ortodoxia de Princeton.

 

Deve ser lembrado que nessa época eu também fazia parte da igreja Presbiteriana. Fui licenciado e ordenado por um presbitério, composto em sua maioria de homens formados em Princeton. Também já comentei que quando fui licenciado para pregar o Evangelho, perguntaram-me se aceitava a Confissão de Fé Presbiteriana, como contendo a substância da doutrina cristã. Respondi que sim, até onde pude entendê-la. Mas como não esperava que me perguntassem isso, nunca a examinara com muita atenção, e creio que não havia lido por completo. Mas quando cheguei a ler a Confissão de Fé e ponderar sobre ela, vi que apesar de poder aceitá-la, como sei que fazem hoje multidões de Presbiterianos, como contendo a substância da doutrina cristã, ainda assim havia vários pontos sobre os quais eu não poderia colocar a mesma construção que era colocada sobre eles em Princeton, e de acordo com isso, em todos os lugares, eu dava a entender que não aceitava aquela construção, ou se aquela era a verdadeira construção, eu então diferia inteiramente da Confissão de Fé. Creio que o Sr. Patterson já entendia isso antes que eu fosse trabalhar com ele, pois quando segui essa conduta em seu púlpito ele não expressou surpresa alguma. Na verdade, não fez nenhuma objeção.

 

O avivamento envolveu tanto sua congregação que o interessou grandemente, pois viu que era Deus que estava abençoando a Palavra como eu apresentava. Permaneceu firme ao meu lado e nunca, em momento algum, fez uma objeção sequer a qualquer coisa que apresentei. Algumas vezes quando voltávamos da reunião, a Sra. Patterson comentava sorrindo "Agora o senhor vê, Sr. Patterson, que o Sr. Finney não concorda com o senhor naqueles pontos sobre os quais tanto conversamos." Ele sempre, na grandeza de sua fé e de seu amor cristão, respondia "Bem, o Senhor abençoa isso.".

 

O interesse tornou-se tão grande que nossas congregações estavam lotadas em todas as reuniões. Certo dia, o Sr. Patterson disse para mim, "Irmão Finney, se os pastores Presbiterianos nesta cidade descobrirem suas idéias e o que o senhor tem pregado ao povo, caçar-lhe-ão como lobos, até o expulsarem da cidade." Eu respondi "Não posso evitar. Não posso pregar nenhuma outra doutrina, e se devem banir-me da cidade, que o façam, e assumam a responsabilidade. Mas não acredito que consigam me tirar daqui.".

 

No entanto, os pastores não tiveram a conduta que ele previu, de maneira alguma, mas praticamente todos me receberam em seus púlpitos. Quando souberam do que acontecia na igreja do Sr. Patterson, e que muitos membros de suas próprias igrejas estavam bastante interessados, convidaram-me a pregar para eles, e se bem me recordo, preguei em todas as igrejas Presbiterianas, exceto na da rua Arch.

 

A Filadélfia era, na época, quase uma unidade, em relação às visões teológicas defendidas em Princeton. O Dr. Skinner defendia, até certo ponto, o que desde então é conhecido como visões renovadas, e diferenciava-se o suficiente do tom da teologia que o rodeava, para que fosse suspeito de não ser correto, segundo a ortodoxia prevalecente. Sempre considerei algo admirável, que, até onde sei, minhas visões doutrinárias não foram uma pedra de tropeço naquela cidade. Então, minha ortodoxia fora abertamente citada, por qualquer um dos pastores ou igrejas. Preguei na igreja Holandesa para a congregação do Dr. Linvingston, e descobri que ele simpatizava com minhas visões, e encorajou-me, com toda sua influência, a continuar pregando aquilo que o Senhor me ordenara. Eu não hesitava em qualquer lugar, em todas as ocasiões, apresentar minhas próprias idéias de teologia, e aquelas que havia apresentado em todos os lugares, às igrejas.

 

O próprio Sr. Patterson estava, creio eu, muito surpreso de eu não encontrar nenhuma oposição aberta da parte dos pastores ou igrejas, em função de minhas visões teológicas. De fato, eu não as apresentava de maneira nenhuma de forma controversa, mas simplesmente as empregava em minhas instruções por motivos santos, e pecadores, de uma forma tão natural, que talvez não chamasse muita atenção, exceto pelos teólogos discrimináveis. Mas muitas coisas que eu dizia eram novas ao povo. Por exemplo, certa noite preguei sobre esse texto: "Porque há um só Deus e um só mediador entre Deus e os homens, Jesus Cristo, homem, o qual se deu a si mesmo em preço de redenção por todos, para servir de testemunho a seu tempo." Esse foi um sermão sobre a remissão, no qual tomei a visão que sempre defendi, de sua natureza e sua universalidade, que declarei, o mais forte que pude, os pontos de diferença entre meus próprios pontos de vista e aqueles de remissão limitada defendidos pelos teólogos. Esse sermão chamou tanta atenção, e incitou tanto interesse, que fui solicitado a pregar sobre o mesmo assunto em outras igrejas. Quanto mais eu pregava sobre isso, mas as pessoas queriam ouvir, e a empolgação tornou-se tão geral, que preguei sobre este assunto por sete noites consecutivas, em sete igrejas diferentes.

 

Parecia que o povo escutara muitas coisas contra o que era chamado de Hopkinsianismo, cujos dois principais pontos que deviam ser entendidos eram, que o homem deveria estar disposto a ser condenado pela glória de Deus, e que Deus era o autor do pecado. Ao pregar, eu às vezes mencionava esses pontos, e aproveitava para denunciar o Hopkinsianismo, e dizer que pareciam ter muito disso na Filadélfia, que seu tratamento negligente quanto à salvação de suas almas, em muito passava a impressão de que estavam dispostos a serem condenados, e que deveriam acreditar que Deus era o autor do pecado, pois defendiam que sua natureza era pecaminosa. Discuti isso sob vários prismas, e insisti nestes dois pontos. Ouvi várias vezes que as pessoas diziam "Bem, ele realmente não é Hopkinsinista." De fato, sentia que era meu dever expor todos os esconderijos dos pecadores, e caçá-los até tirá-los daquelas visões peculiares de ortodoxia, nas quais encontrava-os entrincheirados.

 

O avivamento se espalhou, poderosamente. Todas as nossas reuniões para pregações, orações e dúvidas estavam lotadas. Havia muito mais pessoas que gostariam de participar das reuniões de perguntas e repostas do que as que conseguiam. Já era o final do outono quando mudei-me para a Filadélfia, e continuei a trabalhar lá sem qualquer intervalo até o agosto seguinte, em 1828.

 

Como em outros lugares, existiam alguns casos de amarga oposição da parte de indivíduos. Em um caso, um homem cuja esposa estava profundamente convencida, ficou tão irado que entrou e tirou sua esposa da reunião à força. Outro caso que me recordo foi um muito impactante, de um alemão cujo nome não me lembro agora. Ele era um negociante de tabaco. Tinha uma esposa muito amável e inteligente, e também era, como vim a saber mais tarde quando familiarizei-me com ele, um homem muito inteligente. Ele era, no entanto, um cético, e não tinha confiança alguma na religião. Sua esposa, contudo, vinha a nossas reuniões, e ficou muito preocupada com sua alma, e depois de uma severa peleja que durou muitos dias, converteu-se plenamente. Como ela participava freqüentemente das reuniões, e tornara-se muito interessada, isso logo chamou a atenção de seu esposo, então ele começou a se opor a ela ser uma cristã. Ele tinha, como vim a saber, um temperamento impetuoso, e era um homem de porte atlético, de muita atitude e firmeza de propósito. Quanto mais sua esposa se interessava, mais sua oposição aumentava, até finalmente proibi-la de participar das reuniões.

 

Ela então veio visitar-me, e pediu meu conselho sobre o que deveria fazer. Eu disse que sua primeira obrigação era para com Deus, que tinha sem dúvidas a obrigação de obedecer a Seus mandamentos, mesmo se entrassem em conflito com os mandamentos de seu marido, e que, enquanto eu a aconselhava a evitar ofendê-lo, se pudesse, e a cumprir seu dever para com Deus, de maneira nenhuma deveria omitir o que considerava suas obrigações para com Deus, com a finalidade de realizar os desejos dele. Disse-lhe que, já que ele era um infiel, suas opiniões em assuntos religiosos não deveriam ser respeitadas, e que não podia seguir com segurança seus conselhos. Ela estava bem ciente disso. Ele era um homem que não prestava atenção alguma para a religião, exceto para opor-se a ela.

 

De acordo com meus conselhos, ela participava das reuniões quando tinha chance, recebia as instruções, e logo conseguiu a liberdade do Evangelho, tinha muita fé e paz de espírito, e gozava muito da presença de Deus. Isso aborrecia muito seu marido, e ele acabou indo tão longe a ponto de ameaçá-la de morte, caso fosse novamente a uma reunião. Ela já o havia visto bravo tantas vezes, que não acreditava que ele fosse capaz de cumprir sua ameaça. Calmamente disse a ele que custasse o que custasse, sua mente estava decidida a cumprir seu dever para com Deus, que sentia que era seu dever dar-se a oportunidade de receber as instruções que precisava, e que devia participar das reuniões, sempre que pudesse fazê-lo sem negligenciar seus deveres para com sua família.

 

Certa noite de domingo, quando ele descobriu que ela estava indo para a reunião, reforçou sua ameaça de que se ela fosse, tiraria sua vida. Mais tarde ela me contou que pensava que aquilo não passava de uma ameaça em vão. Calmamente respondeu a seu esposo que seu dever estava claro, que não havia razão para que permanecesse em casa naquela hora, a não ser simplesmente cumprir seu desejo irracional, e que ficar em casa sob tais circunstâncias seria inteiramente inconsistente com seus deveres para com Deus e consigo mesma. Então foi para a reunião. Quando voltou para casa, encontrou-o extremamente irado. Logo que ela entrou pela porta ele a trancou, tirou a chave, e puxou uma adaga e jurou que tiraria sua vida. Ela correu para as escadas. Ele pegou uma vela para segui-la. A criada assoprou apagando a vela quando ele passava perto dela. Isso deixou-os ambos na escuridão. Ela correu e atravessou os quartos no segundo andar, desceu novamente para a cozinha e foi até o porão. Ele não conseguia seguí-la no escuro, então ela saiu pela janela do porão e foi para a casa de uma amiga, onde passou a noite.

 

Presumindo que ele estaria muito envergonhado por sua ira antes de amanhecer, ela foi para casa bem cedo, e ao entrar na casa, encontrou tudo em uma grade desordem. Ele quebrara alguns móveis e agira como um homem louco. Novamente ele trancou a porta logo que ela entrou na casa, e puxando a adaga, caiu de joelhos e levantou suas mãos, jurando da maneira mais terrível que tiraria ali a vida dela. Ela olhou para ele com espanto e fugiu. Subiu as escadas, mas era dia, e ele a seguiu. Ela correu de quarto para quarto até que chegou ao último, do qual não tinha como escapar. Virou-se e o encarou. Ela caiu de joelhos, enquanto ele estava prestes a atingi-la com sua adaga, levantou suas mãos para os céus, gritando por misericória de si mesma e dele. Neste instante Deus o deteve. Ela disse que ele a olhou por um momento, largou sua adaga, e caiu sobre o chão, gritando por misericórdia. Então quebrantou-se naquele exato momento e lugar, confessou seus pecados a Deus e a ela, e implorou a Deus, implorou a ela, que fosse perdoado.

 

A partir daquele momento ele foi um homem maravilhosamente transformado. Tornou-se um dos mais sinceros cristãos. Apegou-se muito a mim, e um ou dois anos depois disso, ao saber que eu viria à Filadélfia em certo barco a vapor, foi o primeiro homem a me encontrar e cumprimentar. Admiti-o com sua esposa na igreja, antes de deixar a Filadélfia, e batizei seus filhos. Não os vejo nem tenho notícias suas há muitos anos.

 

Mas enquanto havia casos individuais de amargura singular e oposição à religião, eu ainda não havia sido perturbado nem atrapalhado por nada como uma oposição pública. Os pastores receberam-me gentilmente, e em momento algum, que eu me lembre, falaram publicamente, se é que falavam em particular, contra a obra que acontecia.

 

Depois de pregar na igreja do Sr. Patterson por vários meses, e em praticamente todas as igrejas Presbiterianas na cidade, viu-se que seria melhor que eu tomasse uma posição central, e pregasse somente em um lugar. Na rua Race havia uma grande igreja alemã, cujo pastor era o Sr. Helfenstein. Os presbíteros da congregação, juntamente com seu pastor, pediram-me para que ocupasse seu púlpito. Sua casa era na época, creio eu, a maior casa de adoração da cidade. Estava sempre lotada, e dizia-se que comportava três mil pessoas, quando ficava lotada com os corredores cheios. Preguei somente ali por muitos meses. Tive a oportunidade de pregar para muitos professores de escola dominical. De fato dizia-se que professores de escola dominical de toda a cidade assistiam meu ministério.

 

Mais ou menos no meio do verão de 1829, saí de lá por um curto período, para visitar os pais de minha esposa no condado de Oneida, então voltei e trabalhei na Filadélfia até mais ou menos a metade do inverno. Não me recordo de datas exatas, mas acredito que no geral, trabalhei naquela cidade por quase um ano e meio. Em todo esse tempo não houve abatimento algum no avivamento, que eu pude perceber. Os convertidos eram numerosos em todas as partes da cidade, mas nunca soube nem pude formar uma estimativa do número exato. Jamais havia trabalhado em lugar nenhum onde fora recebido com mais cordialidade, e onde cristãos, especialmente novos convertidos, parecessem ser melhor do que eram ali. Não havia nenhuma cisma ou birra entre eles que eu soubesse, e nunca ouvi de nenhuma influência desastrosa que resultara daquele avivamento.

 

Muitos fatos interessantes ligados a esse avivamento, aconteceram. Lembro-me que uma jovem que era a filha de um pastor tradicional, assistia minhas ministrações na igreja do Sr. Patterson, e ficou terrivelmente convencida. Suas convicções eram tão profundas, que ela quase acabou caindo em sofrível desespero. Ela me contou que fora ensinada desde criança por seu pai que, se ela fosse um dos eleitos, converter-se-ia no tempo devido, e que até que se convertesse, e tivesse sua natureza mudada pelo Espírito de Deus, nada podia fazer por si mesma, a não ser ler sua bíblia e orar por um novo coração.

 

Ela era bastante jovem e estava muito convicta de seus pecados, mas seguira as instruções de seu pai, e lia sua bíblia, orava por um novo coração, acreditando que isso era tudo que lhe cabia fazer. Esperava ser convertida, esperando assim por uma prova de que era um dos eleitos. No meio de sua grande peleja de alma sobre o assunto de sua salvação, algo havia aparecido em relação à questão de casamento, e ela prometera a Deus que jamais daria sua mão a homem algum até que fosse uma cristã. Quando fez a promessa, disse que esperava que Deus logo a convertesse. Mas suas convicções passaram. Ela não foi convertida, e aquela promessa a Deus ainda estava em sua alma, e não ousava quebrá-la.

 

Por volta de seus dezoito anos de idade, um jovem rapaz propôs fazê-la sua esposa. Ela aceitou, mas como tinha um voto, não podia consentir no casamento até que fosse uma cristã. Ela disse que eles se amavam muito, e que ele insistia em casar-se com ela sem demora. Mas sem dizer-lhe a verdadeira razão, ela continuava adiando de tempos em tempos, por quase cinco anos, se bem me lembro, esperando que Deus a convertesse. Por fim, certo dia ao andar com sua carroça, o rapaz foi jogado para fora do carro e morreu na hora. Isso gerou uma grande inimizade em seu coração contra Deus. Acusava-O de lidar duramente com ela. Ela dizia que estivera esperando que Ele a convertesse, e fora fiel em sua promessa de não se casar até que fosse convertida, que mantivera seu amado esperando por anos até que estivesse pronta, e agora, eis que Deus o levara, e ela ainda não fora convertida.

 

Ela descobrira que o jovem era um Universalista, e agora estava muito interessada em acreditar que o Universalismo era verdadeiro, e não acreditava que Deus o tivesse mandando para o inferno, e se Ele o tivesse mandado para o inferno, ela não poderia reconciliar-se com isso de maneira alguma. Assim, ela vinha guerreando com Deus por bastante tempo, antes de vir a nossas reuniões, supondo que a culpa por não ser convertida era devida a Deus, e não a ela mesma.

 

Quando ela ouviu minha pregação, descobriu que todos os seus falsos refúgios foram despedaçados, viu que deveria ter entregue seu coração a Deus há muito tempo, e tudo estaria bem. Viu que a culpa era toda sua, e que os ensinamentos de seu pai, em todos aqueles tópicos, estavam totalmente errados ao lembrar-se de como culpara Deus, e da blasfema atitude que mantinha diante Dele. Ela naturalmente desesperou-se por misericórdia. Conversei com ela, e tentei mostrar-lhe o longo sofrimento de Deus, encorajando-a a ter esperança, a acreditar, e confiar na vida eterna. Mas seu senso de pecado era tão grande, que parecia incapaz de receber a promessa, e afundava-se mais e mais em desespero, dia após dia.

 

Depois de trabalhar bastante com ela, fiquei muito angustiado com seu caso. Depois de cada sermão ela me seguia até em casa, com suas desesperadoras reclamações, e deixava-me exausto com apelos à minha simpatia e compaixão cristã por sua alma. Depois de essa situação prolongar-se por muitas semanas, certa manhã veio visitar-me na companhia de uma tia sua, que estava muito preocupada, e que pensava que ela estava no limiar de uma insanidade desesperadora. Eu mesmo compartilhava dessa opinião, achando que esse seria o resultado, se ela não passasse a acreditar. Catharine &endash; pois esse era seu nome &endash; entrou em meus aposentos em sua maneira desesperada usual, mas com um olhar quase selvagem em seu rosto que indicava que seu estado mental estava insuportável, e na hora, creio que foi o Espírito de Deus que sugeriu em minha mente, adotar uma conduta inteiramente diferente com ela do que já fizera antes.

 

Eu disse a ela "Catharine, você diz acreditar que Deus é bom." "Oh, sim!" ela disse "eu acredito nisso." "Bem, você já me disse várias vezes que a bondade Dele O proíbe de ter misericórdia de você &endash; que seus pecados foram tão grandes que seria uma desonra para Ele perdoar-lhe e salvar-lhe. Você já me disse várias vezes que acredita que Deus a perdoaria, se sabiamente pudesse, mas que o seu perdão seria uma injúria para Ele, para Seu governo, para Seu universo, e que portanto Ele não pode perdoar você." "Sim," ela disse "eu acredito nisso." Eu respondi "Então seu problema é que espera que Deus peque, que aja sem sabedoria e prejudique-se a Si mesmo e ao universo pelo bem de salvar você." Ela abriu e fixou seus grandes olhos azuis sobre mim, parecendo em parte surpresa e em parte indignada. Mas eu continuei: "Sim! Você está com a mente tão angustiada e atribulada porque Deus não fará nada de errado, porque Ele continuará sendo bom, seja lá o que aconteça com você. Você fica com o maior sofrimento em sua mente, porque Deus não será convencido a violar Seu próprio senso de propriedade e dever, e salvar-lhe prejudicando-se a Si mesmo, e a todo o universo. Pensa que é mais importante que Deus e universo inteiro, e não pode ser feliz a menos que Deus faça a Si mesmo e a todas as outras pessoas infelizes, para fazer você feliz."

 

Insisti nisso com ela. Olhava-me totalmente estarrecida, e depois de alguns momentos, submeteu-se. Parecia estar quase instantaneamente sujeita, como uma criancinha. Ela disse "Eu aceito. Que Deus me mande para o inferno, se achar que é a melhor coisa a se fazer. Não quero que me salve custando-se a Si mesmo, e ao custo do universo. Que Ele faça o que for melhor a Seus olhos." Levantei-me e saí imediatamente do quarto, e para afastar-me inteiramente dela, peguei uma carroça e saí. Quando voltei, é claro que ela havia ido embora, mas à tarde, ela e sua tia retornaram, para contar o que Deus fizera por sua alma. Estava cheia de gozo e paz, e tornou-se uma das mais submissas, humildes e lindas convertidas que já conheci.

 

Outra jovem, lembro-me, uma moça muito bonita, de talvez vinte anos de idade, veio visitar-me sob grande convicção de pecado. Perguntei-lhe, entre outras coisas, se estava convencida de que havia sido tão ímpia que Deus poderia, com justiça, enviá-la para o inferno. Ela respondeu com uma linguagem forte "Sim! Mereço mil infernos." Ela estava alegre e ricamente vestida, creio eu. Tive uma longa conversa com ela. Ela abriu seu coração e entregou-se a Cristo. Foi uma conversão muito humilde e quebrantada. Eu soube que ela foi para casa e ajuntou muitas de suas flores artificiais e ornamentais, com os quais enfeitava-se, e dos quais era muito vaidosa, e passou pelo quarto com eles nas mãos. Perguntaram-lhe o que faria com aquilo. Ela disse que estava indo queimá-los. Disse "Nunca mais os usarei de novo." "Bem," disseram-lhe "se não vai usá-los, pode vendê-los, não queime." Mas ela respondeu "Se eu vender, outra pessoa será tão vaidosa com eles quanto eu mesma tenho sido. Vou queimá-los." E ela realmente ateou fogo em tudo.

 

Poucos dias depois disso, ela veio me visitar, e disse que tinha observado uma senhora muito bem vestida enquanto passava pelo mercado, creio que naquela mesma manhã. Teve tanta compaixão que foi até ela e perguntou se poderia falar-lhe por um instante. A senhora disse que sim. Então disse-lhe "Minha querida madame, será que a senhora não tem orgulho de seu vestido, será que não é vaidosa e negligencia a salvação de sua alma?" Contou que ela mesma caiu em lágrimas enquanto dizia isso, e contou para a senhora um pouco de sua própria experiência, de como fora tão apegada ao vestuário, e de como isso quase arruinou sua alma. "Agora," disse ela, "a senhora é uma linda mulher, e está muito bem vestida, será que não tem a mesma mente que eu tinha?" Ela disse que a senhora chorou, e confessou que aquilo vinha sendo sua armadilha, e que tinha medo que seu amor pela moda e pela sociedade arruinasse sua alma. Confessou que negligenciava a salvação de sua alma, porque não sabia como libertar-se do círculo no qual vivia. A jovem queria saber se eu achava que o que fizera foi errado, no que falou àquela senhora. Disse-lhe que não! Que quem dera todos os cristãos fossem tão cheios de fé quanto ela, e que esperava que ela jamais parasse de prevenir as mulheres contra aquilo que quase arruinara sua alma.

 

Na primavera de 1829, quando o Delaware estava alto, os lenhadores desceram com suas jangadas da parte mais alta das terras, de onde estiveram extraindo a lenha durante o inverno. Naquela época havia uma grande faixa de terra, ao longo na região norte da Pensilvânia, chamada por muitos de região da lenha, que se estendia até a nascente do rio Delaware. Muitas pessoas estavam envolvidas em extrair lenha ali, no verão e no inverno. Muita dessa lenha era levada na primavera, quando as águas do rio estavam altas, para a Filadélfia. Elas iam para aquela região quando o rio estava baixo, e quando a neve ia embora, e vinham as chuvas de primavera, jogavam a lenha no rio, flutuando-as até um lugar onde pudessem construir jangadas, ou senão, despachavam-nas para o mercado da Filadélfia.

 

Muitos dos lenhadores criavam famílias naquela região, e havia uma grande faixa de terra lá ainda deserta e desocupada, exceto por esses lenhadores. Eles não tinham nenhuma escola, e naquela época, nenhuma igreja ou privilégios religiosos alguns. Eu conhecia um pastor que me contou ter nascido naquela região da lenha, e que quando tinha vinte anos de idade, nunca tinha ido a uma reunião religiosa, e era analfabeto.

 

Esses homens que desceram com as lenhas participaram de nossas reuniões, e um bom número deles se converteram. Voltaram para a mata, e começaram a orar pelo derramamento do Espírito Santo, e a contar para as pessoas ao seu redor o que tinham visto na Filadélfia, e a exortá-los a buscarem sua salvação. Seus esforços foram imediatamente abençoados, e o avivamento começou a acontecer, e a se espalhar em meio àqueles lenhadores. Ele continuou de maneira mais poderosa e admirável. Espalhou-se a tal ponto que em muitos casos, haviam pessoas que não tinham participado de nenhuma reunião, e que eram quase tão ignorantes quanto selvagens, convenciam-se e convertiam-se. Homens que estavam extraindo lenha, e viviam sozinhos em pequenos casebres, ou em dois ou três juntos, eram tomados de tal convicção a ponto de serem levados a divagar e perguntar a outros o que deveriam fazer, e convertiam-se, e assim espalhou-se o avivamento. Havia muita simplicidade entre os convertidos.

 

Um velho pastor que estava bastante familiarizado com a situação, relatou-me o seguinte fato, como um exemplo do que estava acontecendo lá. Ele disse que um homem em certo lugar, tinha um casebre onde passava as noites sozinho, e estava a extrair suas ripas durante o dia. Ele começou a sentir que era um pecador, e suas convicções aumentaram sobre ele até que não pode mais resistir, confessou seus pecados e se arrependeu, e o Espírito de Deus revelou-lhe o caminho da salvação de tal forma, que ele claramente conheceu o Salvador. Mas ele jamais participara de uma reunião de oração, ou escutara uma oração, que pudesse se lembrar, em sua vida. Mas seus sentimentos eram tais, que sentiu-se constrangido a ir contar para alguns de seus conhecidos, que estavam a extrair lenha em outro lugar, como estava se sentindo. Mas quando ele chegou descobriu que vários deles sentiam-se da mesma forma, e que estavam realizando reuniões de oração. Ele participou de suas reuniões, e escutou-lhes orar, e por fim acabou orando também. E foi assim sua oração: "Senhor, o Senhor me derrubou, e espero que me mantenha no chão. E já que o Senhor teve tanta sorte comigo, espero que tente fazer o mesmo com outros pecadores."

 

Eu já disse que essa obra começou na primavera de 1829. Na primavera de 1831, eu estava mais uma vez em Auburn. Dois ou três homens dessa região da lenha foram até lá para me ver, e perguntar como conseguiriam levar alguns pastores para lá. Disseram que não menos do que cinco mil pessoas haviam-se convertido naquela região da lenha, e que o avivamento estendera-se por quase cento e trinta quilômetros, e que não havia nem um único pastor do Evangelho ali.

 

Nunca estive naquela região, mas de tudo que já ouvi sobre ela, considero aquele como um dos mais admiráveis avivamentos que já ocorreram nesse país. Ele foi adiante quase que independentemente do ministério, em meio a um grupo de pessoas muito ignorantes, no que diz respeito a qualquer instrução comum, e ainda assim os ensinamentos de Deus eram tão claros e maravilhosos, que sempre vi porque o avivamento era tão admiravelmente livre de fanatismos, selvageria, ou qualquer coisa questionável. Posso estar mal-informado em alguns aspectos, mas relato o assunto como o entendi. Vejam quão grande o resultado de um pequeno fogo causou! A faísca que atingiu o coração daqueles poucos lenhadores que vieram até a Filadélfia, espalhou-se por aquela floresta, e resultou na salvação de uma multidão de almas.

 

Creio que o Sr. Patterson é um dos homens mais verdadeiros e santos com quem já trabalhei. Sua pregação era bastante admirável. Ele pregava com muita sinceridade, mas muitas vezes não havia nenhuma ligação nas coisas que dizia, e pouco estava relacionado à passagem que escolhera. Disse-me várias vezes "Quando eu prego, prego de Gênesis a Apocalipse." Ele pegava um texto, e depois de fazer alguns comentários sobre ele, ou às vezes comentário nenhum, algum outro texto lhe era sugerido, sobre o qual ele faria comentários muito pertinentes e impactante, e então outro texto, e assim seus sermões eram feitos de enérgicos e diretos comentários sobre muitos textos, conforme surgiam em sua mente.

 

Ele era um homem alto, de aparência forte e voz poderosa. Ele pregava com as lágrimas escorrendo por seu rosto, e com uma sinceridade e comoção que eram muito impactantes. Era impossível ouví-lo pregar sem ficar impressionado com um senso de sua intensa sinceridade e sua grande honestidade. Escutei-o pregar apenas algumas vezes, e na primeira delas, preocupei-me, achando que sua pregação era tão divagante por natureza, que não poderia ter efeito. Contudo, vi que estava errado. Descobri que apesar dessa natureza, sua grande honestidade e unção marcavam a verdade no coração de seus ouvintes, e acho que nunca o escutei pregar sem saber que algumas pessoas foram profundamente convencidas pelo que ele havia dito.

 

Ele costumava ter um avivamento religioso todo inverno, e na época que trabalhei com ele, creio que me contou que tivera quatorze avivamentos em invernos sucessivos. Ele tinha um povo de oração. Quando eu estava trabalhando com ele, lembro-me que por dois ou três dias, certa feita, parecia haver algo no caminho. A obra parecia meio suspensa, e comecei a temer que algo pudesse ter afastado o Espírito Santo. Uma noite, na reunião de oração, quando essa situação começava a se manifestar, um de seus presbíteros levantou-se e fez uma confissão. Ele disse "Irmãos, o Espírito de Deus foi afastado, e fui eu que O afastei. Tenho tido o hábito de orar pelo Irmão Patterson, e pela pregação, no sábado à noite, até a meia-noite. Esse tem sido um hábito meu por muitos anos, passar a noite de sábado, até a meia-noite, implorando pela benção de Deus sobre as obras do domingo. No sábado passado," ele continuou "eu estava cansado, e me omiti. Pensei que a obra caminhava tão prazerosa e poderosamente, que podia ir para a cama sem olhar para Deus e pedir por uma benção nas obras do domingo. No domingo, fiquei impressionado com a convicção de ter afastado o Espírito, e vi que não houve a manifestação usual da influência do Espírito sobre a congregação. Convenci-me desde então, e senti que era meu dever fazer essa confissão pública. Eu não sei quem mais além de mim tem afastado o Espírito de Deus, mas eu com certeza fiz isso."

 

Eu já falei sobre a ortodoxia do Sr. Patterson. Quando comecei a trabalhar com ele, senti-me consideravelmente testado, em algumas situações, com o que ele diria a pecadores convictos. Por exemplo: na primeira reunião que tivemos para perguntas e repostas, o número de participantes era muito grande. Gastamos algum tempo conversando com diferentes pessoas, e passando de um lugar para o outro, dando instruções. Quando vi, o Sr. Patterson se levantou de maneira muito agitada e disse "Meus amigos, vocês começaram a olhar para frente, e agora exorto-os a seguirem adiante." Ele continuou com uma exortação por alguns instantes, na qual deixou, distintamente, a impressão de que agora estavam no caminho certo, e que somente tinham que continuar seguindo adiante como estavam fazendo, e seriam salvos. Seus comentários preocuparam-me muito, pois pareciam tender para a auto-justificação , causando a impressão de que estavam indo muito bem, e que se continuassem a fazer seu dever, como faziam, seriam salvos.

 

Essa não era minha idéia de sua situação, e preocupei-me ao escutar tais instruções, e fiquei perplexo com a questão de como reagir a isso. Contudo, no encerramento na reunião, como já era de meu costume, eu resumia os resultados de nossas conversas, e dirigia-me às pessoas. Fiz alusão ao que o Sr. Patterson dissera, e comentei que eles não deveriam compreendê-lo de forma errada, que o que ele havia dito era a realidade daqueles que realmente haviam-se voltado para Deus, com os olhos fixos na direção de Sião, ao entregarem seus corações para Deus. Mas não deveriam pensar em aplicar isso àqueles que estavam convencidos, mas que ainda não se arrependeram, acreditaram, e entregaram seus corações a Deus. E ao invés de estarem com seus olhos voltados para Sião, estavam na verdade dando as costas para Cristo, que ainda resistiam ao Espírito Santo, que ainda estavam a caminho do inferno, que a cada momento que resistiam, ficavam piores, e que a cada momento que permaneciam não arrependidos, sem submissão e fé, aumentavam sua condenação. O Senhor me deu uma visão muito clara do assunto. O Sr. Patterson ouviu com a maior atenção possível. Jamais esquecerei a sinceridade com que me olhava, e o interesse com o qual via o detalhamento que fiz.

 

Continuei falando até que pude ver e sentir, que a impressão causada pelo que fora dito não somente havia sido corrigida, mas que também uma grande pressão fora colocada sobre eles para que se submetessem imediatamente. Então convidei-lhes a ajoelharem-se, e entregarem-se naquela hora e lugar, para sempre com fé no Senhor Jesus Cristo. Expliquei-lhes, da forma mais clara que pude, e tenho razões para acreditar que muitos deles converteram-se de imediato.

 

Depois disso nunca mais ouvi nada da parte do Sr. Patterson que pudesse ser questionável, ao dar instrução aos pecadores duvidosos. De fato, descobri que era um mestre admirável, com a mente aberta a discriminações justas. Ele parecia particularmente rápido em assimilar as verdades que precisavam ser apresentadas a tais pecadores, e presumo que até o dia de sua morte, ele nunca mais apresentou tal visão do assunto como a que mencionei. Eu respeito e reverencio seu nome. Ele era um amável homem cristão, e fiel ministro de Jesus Cristo. 

 

 

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