A VERDADE DO EVANGELHO

MEMÓRIAS DE CHARLES G. FINNEY

por Charles G. Finney

CAPÍTULO XIV.

 

O AVIVAMENTO EM UTICA, NOVA IORQUE

PASSADOS quase vinte dias de minha estadia em Roma, um dos presbíteros da igreja do Sr. Aiken, um homem muito usado, faleceu, então fui até lá para seu funeral. O Sr. Aiken conduziu o funeral, e soube por ele que o espírito de oração já era manifesto em sua congregação, naquela cidade. Ele disse que uma das principais senhoras estivera tão profundamente preocupada com a situação na igreja e dos ímpios daquela cidade, que orou por dois dias e duas noites, praticamente sem cessar, até que suas forças se houvessem esgotado; que tivera uma batalha literal de alma, ao ponto de suas forças físicas extinguirem-se e ela não podia suportar o fardo que estava em sua mente, a menos que alguém se envolvesse em oração com ela, para que ela tivesse apoio &endash; alguém que pudesse expressar os desejos dela para Deus.

Eu compreendi isso e disse ao Sr. Aiken que a obra já havia começado no coração dela. Ele reconheceu isso, é claro e desejava que eu começasse a trabalhar com ele e com seu povo imediatamente. Logo fiz isso e, com certeza, a obra começou de repente. A Palavra teve efeito imediato e o lugar foi cheio da influência manifesta do Espírito Santo. Nossas reuniões estavam lotadas todas as noites, a obra espalhou-se e progrediu poderosamente, em especial nas duas congregações Presbiterianas, das quais uma tinha o Sr. Aiken como pastor e a outra, o Sr. Brace. Eu dividia meu trabalho entre as duas igrejas.

Logo depois que comecei em Utica, percebi e comentei com o Sr. Aiken que o Sr. B, o xerife de quem falei, não participava das reuniões. Mas poucas noites depois, quando eu estava prestes a começar meu sermão, o Sr. Aiken sussurrou para mim que o Sr. B acabara de entrar. Mostrou-me onde ele estava enquanto ainda entrava pelo corredor em direcção ao seu lugar. Peguei meu texto e continuei a dirigir-me à congregação. Eu não estava falando mais de alguns minutos quando percebi que o Sr. B levantou-se, virou-se de costas, colocou seu casaco sobre si e ajoelhou-se. Percebi que isso chamou a atenção daqueles que estavam próximos e o conheciam, o que gerou uma sensação considerável naquela parte do templo. O xerife continuou de joelhos durante todo o culto. Então retirou-se para o hotel onde estava hospedado. Ele era um homem, talvez com seus cinquenta anos, solteiro.

Mais tarde ele me contou que sua mente estava muito pesada quando foi para casa e mencionou o assunto do qual escutara. Eu havia pressionado a congregação a aceitar a Cristo, tal qual Ele era apresentado no Evangelho. A questão da presente aceitação de Cristo e toda a situação no que diz respeito à relação do pecador com Ele e Sua relação com o pecador, foram o tema do discurso. Ele disse que reunira em sua mente todos os pontos apresentados e que apresentou-os solenemente a si próprio, dizendo "Minha alma, você concorda com isso? Aceita a Cristo, desistindo do pecado e desistindo de si mesma? E fará isso agora?" Ele disse que, na agonia de sua mente, jogou-se em sua cama. Disse isso a si mesmo e pressionou sua alma a aceitar, naquela hora e instante. Foi então, ele disse, que a perturbação o deixou e adormeceu tão rapidamente, acordando só horas depois. Quando acordou, viu que sua mente estava cheia e paz e descanso em Cristo e a partir desse momento tornou-se um sincero obreiro de Cristo entre seus conhecidos e familiares.

O hotel no qual ele se hospedara era, na época, de um Sr. S. O Espírito tomou aquela casa de forma poderosa. O próprio Sr. S logo foi alvo de oração e se converteu, bem como muitos de sua própria família e hóspedes. De fato o maior hotel da cidade tornou-se um centro de influência espiritual e muitos se converteram lá. As diligências, conforme passavam, paravam no hotel, e a impressão era tão poderosa sobre a comunidade, que eu soube de vários casos de pessoas que pararam apenas para uma refeição, ou para passar a noite, serem poderosamente convencidas e convertidas antes que pudessem sair da cidade. É verdade, tanto nesse lugar quanto em Roma, havia algo em comum: ninguém conseguia estar na cidade, ou passar por ela, sem ter consciência da presença de Deus; que uma influência divina parecia tomar conta do lugar e toda a atmosfera marcada com uma vida divina.

Um mercante de Lowville veio a Utica, para tratar de alguns de seus negócios. Ele parou no hotel onde o Sr. B estava hospedado. Reparou que toda a conversa na cidade era muito irritante para si, sendo que era um homem não convertido. Aborreceu-se, disse que não tinha como fazer negócios ali, que tudo era religião e decidiu ir para casa. Ele não podia entrar em uma loja sequer, sem que a religião fosse mostrada a ele e não podia fazer negócios com eles. Naquela mesma noite, iria para casa.

Esses comentários foram feitos na presença de alguns jovens convertidos os quais se hospedavam no hotel e creio que especialmente na presença do Sr. B. Como a diligência deveria ir embora bem tarde naquela noite, ele foi visto indo para o bar pouco antes de retirar-se, para pagar sua conta, dizendo que o Sr. S. provavelmente não estaria acordado quando a diligência passasse e portanto ele gostaria de acertar sua conta antes de se retirar. O Sr. S disse que percebeu, enquanto acertava sua conta, que sua mente estava muito perturbada e sugeriu a vários dos senhores hóspedes que fizessem dele um alvo de oração. Levaram-no, creio eu, para o quarto do Sr. B, conversaram e oraram com ele e antes que a diligência chegasse, ele era um homem convertido. E ficou imediatamente tão preocupado com as pessoas de sua própria terra, que quando a diligência chegou ele tomou passagem e foi directo para casa. Logo que chegou lá, contou sua experiência a sua família, chamou a todos e orou com eles. Sendo que ele era um cidadão muito proeminente e muito extrovertido e proclamava em todos os lugares o que o Senhor fizera por sua alma, uma impressão muito solene foi gerada em Lowville e logo resultou em um grande avivamento naquele lugar.

Foi no meio do avivamento em Utica que escutamos pela primeira vez sobre a oposição àqueles movimentos, que se espalhava pelo Leste. O Sr. Nettleton escreveu algumas cartas para o Sr. Aiken, com quem eu trabalhava, nas quais estava manifesto o quanto ele se enganara sobre o carácter daqueles avivamentos. O Sr. Aiken mostrou-me essas cartas e elas foram passadas para os pastores da vizinhança, como deveriam ser. Entre elas estava uma na qual o Sr. Nettleton declarava a totalidade do que ele considerava como não aceitável na condução desses avivamentos, mas sendo que nada do que ele reclamava acontecia nos avivamentos, nem aconteceram, não fizemos mais nada com as cartas a não ser lê-las e passá-las adiante. O Sr. Aiken, no entanto, respondeu em particular a uma ou duas delas, assegurando ao Sr. Nettleton que nada daquilo que as cartas diziam havia acontecido. Não me lembro agora se o Sr. Nettleton reclamou do fato que mulheres oravam algumas vezes nas reuniões sociais. Mas era verdade, contudo, que em algumas poucas situações, algumas mulheres muito proeminentes que estavam fortemente envolvidas no Espírito, lideravam orações nas reuniões sociais que realizávamos diariamente de casa em casa. Nenhuma oposição, que eu saiba, foi colocada a isso, nem em Utica, nem em Roma. Não fiz nada para introduzir essa prática entre o povo e não sei se já lá existia antes ou não. De fato não era um assunto no qual se pensava ou comentava muito, até onde sei, na vizinhança onde ocorria.

Eu já mencionai que o Sr. Weeks, que defendia doutrinas altamente ofensivas na questão de eficiência divina, era conhecido por ser contra esses avivamentos. Para o conhecimento daqueles que podem não saber que tais doutrinas já foram defendidas, eu diria que o Sr. Weeks e aqueles que concordavam com ele, defendiam que tanto o pecado quanto a santidade eram produzidos na mente por acção directa de um poder supremo; que Deus fazia dos homens pecadores ou santos, segundo Seu soberano querer, mas em ambos os casos por uma acção directa de Seu poder, como um acto irresistível como o da própria criação; que na verdade Deus era o único agente real no universo e que todas as criaturas agiam somente conforme eram movidas e compelidas a agir, pela acção directa e irresistível da parte de Deus. E eles tentavam provar isso a partir da bíblia.

A ideia do Sr. Week sobre conversão, ou regeneração, era que Deus, que fez dos homens pecadores, também os levava, ao regenerá-los, a admitir que Ele tinha o direito de fazê-los pecadores, por Sua glória e de mandá-los para o inferno pelos pecados que Ele criara directamente dentro deles, ou levara-os a cometer pela força da Sua omnipotência. Toda a conversão que não levasse os pecadores a aceitarem esse ponto de vista, Ele não confiava nela. Aqueles que já leram os nove sermões do Sr. Week sobre o assunto, verão que não apresentei de forma errada suas visões. E considerando que essa ideia do Sr. Week era adoptada, consideravelmente, por ministros e professores de religião naquela região, sua conhecida oposição, juntamente com a de alguns outros pastores, encorajava e aumentava muito a oposição de outros.

A Obra, no entanto, persistia com grande poder, convertendo todas as classes sociais, até o Sr. Aiken reportar a maravilhosa conversão de quinhentas pessoas, no decurso de poucas semanas, a maioria delas, acredito, de sua própria congregação. Os avivamentos eram algo relativamente novo naquela região e a grande massa do povo não fora convencida de que eles eram a obra de Deus. Não tinham a reverência por eles que depois vieram a ter. A impressão de que esses movimentos logo passariam e provariam não ter sido nada além de mero empolgamento e de sentimentos animais, parecia muito grande. Não quero dizer que aqueles que estavam interessados na obra tinham essa mentalidade.

Uma circunstância ocorreu, no meio daquele avivamento, que causou grande impacto. O presbitério de Oneida reuniu-se ali enquanto o avivamento se dava em sua força total. Entre outros, havia um clérigo, um estranho para mim, que estava muito irritado pelo calor e fervor do avivamento. Ele encontrou a opinião pública toda voltada para o assunto religião e viu que havia oração e conversa sobre religião em todo lugar, até mesmo nas lojas e nos lugares públicos. Ele nunca havia visto um avivamento e nunca escutara o que escutou ali. Era escocês e, eu creio, que não vivia há muito tempo no país.

Na sexta-feira à tarde e antes que o presbitério fosse dispensado, ele se levantou e fez um violento discurso contra o avivamento, como acontecia. O que ele disse chocou e entristeceu muito os cristãos que estavam presentes. Eles caíram de rosto em terra diante do Senhor, clamando a Ele que evitasse que o que ele havia dito causasse dano.

A reunião do presbitério terminou no final da tarde. Alguns dos membros foram para casa e outros passaram a noite por lá. Os cristãos entregaram-se à oração. Houve um grande clamor a Deus naquela noite, para que Ele reagisse a qualquer influência maligna que pudesse resultar daquele discurso. Na manhã seguinte, esse homem foi encontrado morto em sua cama.

No curso desses avivamentos, pessoas à distância, em quase todas as direcções, ouvido o que o Senhor estava fazendo, ou sendo atraídas por curiosidade sobre o que ouviam, vinham ver com seus próprios olhos e muitas convertiam-se a Cristo. Entre esses visitantes, o Dr. Garnet Judd, que pouco tempo depois foi para as Ilhas Sandwich como missionário e é bastante conhecido dos amantes das missões há muitos anos. Ele pertencia à congregação do Sr. Weeks, a quem já referi. Seu pai, o velhinho Dr. Judd, era um sincero homem cristão. Ele veio até Utica e simpatizou muito com o avivamento.

Na mesma época uma moça, a Srta. F T, de alguma parte da Nova Inglaterra, veio para Utica nas seguintes circunstâncias: ela estava leccionando num colégio, no bairro de Newburgh, Nova Iorque. Sendo que tanto foi dito nos jornais sobre o avivamento em Utica, a Srta. T, entre outros, ficou maravilhada e espantada, com o desejo de ver com por si mesma o que era aquilo. Ela dispensou sua escola por dez dias e pegou uma diligência até Utica. Ao passar pela rua Genesee a caminho do hotel, ela observou num dos letreiros o nome B T. Ela era totalmente estranha em Utica e não sabia que tinha qualquer conhecido ou familiar por ali. Mas depois de ficar um ou dois dias no hotel e perguntar quem era B T, enviou-lhe uma mensagem, dizendo que a filha de um Sr. T, dando o nome de seu pai, estava no hotel e gostaria de vê-lo. O Sr. T foi visitá-la e descobriu que ela era uma parente distante, convidando-a imediatamente para sua casa. Ela aceitou esse convite e ele, sendo um verdadeiro cristão, levou-a a todas as reuniões e tentou aumentar seu interesse na religião. Ela ficou muito surpresa com o que viu e deveras bastante incomodada.

Era uma jovem enérgica, muito culta e orgulhosa e a maneira na qual as pessoas conversavam com ela e a pressionavam com a necessidade de dar imediatamente seu coração para Deus, deixava-a muito conturbada. As pregações que ela ouvia, noite após noite, tomaram conta de sua mente. A culpa dos pecadores era muito relembrada e o merecimento e perigo da condenação eterna aumentavam em sua mente. Isso incitou sua oposição, mas ainda assim a obra da convicção continuou poderosamente em seu coração.

Enquanto isso eu não a tinha visto, para conversar com ela, mas ouvi do Sr. T sobre sua situação. Depois de tentar resistir à verdade por alguns dias, ela foi visitar-me. Sentou-se no sofá da sala de visitas. Coloquei minha cadeira em frente a ela, e comecei a falar com ela sobre os mandamentos de Deus. Ela mencionou minha pregação sobre como os pecadores merecem ser enviados para sempre para o inferno, e disse que não podia aceitar isso, que não acreditava que Deus era assim. Eu respondi "E a senhorita também ainda não entende o que é um pecado, em sua real natureza doentia, se entendesse, não reclamaria que Deus enviasse os pecadores para sempre para o inferno." Então eu abri o assunto diante dela na conversa, da forma mais clara que pude. Por mais que ela odiasse acreditar nisso, a convicção de que era verdadeiro pouco a pouco tornava-se irresistível. Conversamos nessa linha por algum tempo, até que vi que ela estava pronta a desabar em uma madura convicção; então eu disse algumas palavras sobre o que Jesus reserva, e qual é a real situação dos fatos, no que diz respeito à salvação daqueles que mereciam ser condenados.

Seu semblante empalideceu, em um momento ela jogou suas mãos para cima e gritou, e então caiu para frente, sobre o braço do sofá, deixando seu coração se quebrantar. Creio que ela não tinha chorado nenhuma vez antes. Seus olhos eram secos, sua fisionomia abatida e pálida, sua sentibilidade totalmente trancada. Mas agora as comportas haviam sido abertas, e ela colocou todo seu coração derramar-se diante de Deus. Não tive mais chance de falar-lhe mais nada. Ela logo se levantou e foi para seus aposentos. Desistiu de sua escola quase que imediatamente, e ofereceu-se como missionária. Casou-se com um Sr. Gulick, e foi para as Ilhas Sandwich, creio eu, na mesma época em que foi o Dr. Judd. Sua história como missionária é bem conhecida. Ela tem sido uma missionária muito usada, teve e criou muitos filhos, que também são missionários.

Enquanto morava em Utica, pregava freqüentemente em New Hartford, um vilarejo a pouco mais de seis quilômetros ao sul da cidade. Havia uma preciosa e poderosa obra de graça, e o pastor da igreja Presbiteriana na época era um Sr. Coe. Preguei também em Whitesboro, outro lindo vilarejo, pouco mais de seis quilômetros a oeste de Utica, onde também houve um avivamento poderoso. O pastor, Sr. John Frost, era um obreiro muito eficiente.

Uma situação ocorreu naquela vizinhança que não posso deixar de relatar. Havia uma fábrica de algodão no riacho de Oriskany, um pouco acima de Whitesboro, um local hoje chamado de New York Mills. Pertencia a um Sr. W, um homem não convertido, mas cavalheiro de alta posição social e boa moral. Meu cunhado, Sr. G A, era superintendente da fábrica na época. Eu fui convidado a ir pregar naquele lugar. Subi até lá certa noite e preguei na escola do vilarejo, que era grande e estava lotada de ouvintes. A Palavra, eu pude ver, teve um efeito poderoso em meio as pessoas, especialmente entre os jovens que trabalhavam na fábrica.

Na manhã seguinte, depois do café da manhã, fui até a fábrica para conhecer. Conforme passava por ela, observei que havia bastante agitação entre aqueles que estavam ocupados com seus teares, suas máquinas de fiar, e outras ferramentas de trabalho. Ao pasar por uma das salas, onde havia um grande número de mulheres ocupadas tecendo, percebi algumas delas olhando para mim, e falando com muita sinceridade uma com a outra, e pude ver que estavam muito agitadas, apesar de ambas estarem rindo. Fui devagar em sua direção. Viram-me chegando e estavam claramente muito empolgadas. Uma delas tentava emendar uma trama quebrada, e percebi que suas mãos tremiam tanto que ela não conseguia. Aproximei-me devagar, olhando para o maquinário em ambos os lados conforme passava, mas percebi que essa moça ficava cada vez mais agitada, e não conseguia continuar com seu trabalho. Quando cheguei a uns dois ou três metros dela, encarei-a solenemente. Ela percebeu, não conseguiu mais segurar-se, foi ao chão e caiu em lágrimas. O impacto veio quase como mágica, e em alguns instantes praticamente todas naquela sala estavam em lágrimas. Esse sentimento espalhou-se pela fábrica. Sr. W, o dono do estabelecimento, estava presente, e vendo a situação disse ao superintendente "Pare as máquinas, e deixe que as pessoas prestem atenção à religião, pois é mais importante que nossas almas sejam salvas do que essa fábrica funcione." O portão foi fechado imediatamente e a fábrica parou, mas onde nos reuniríamos? O superintendente sugeriu que nos reuníssemos na sala das máquinas de fiar, pois era grande e as máquinas estavam paradas. Fizemos isso, e foi uma reunião tão poderosa quanto poucas que já participei. Aconteceu com grande poder. O prédio era grande, e havia muitas pessoas ali dentro, do sótão ao porão. O avivamento atravessou a fábrica com poder supreendente, e no curso de alguns dias praticamente todos ali se converteram.

Considerando que muito foi dito sobre a conversão de Theodore D. Weld, em Utica, pode ser certo para mim, dar o relato correto dos fatos. Ele tinha uma tia, Sra. C, que morava em Utica e era uma mulher de Deus, mulher de oração. Era filho de um eminente clérigo da Nova Inglaterra, e sua tia achava que ele era cristão. Ele costumava liderar a família dela na adoração. Antes do início do avivamento, ele tornara-se um membro da Faculdade Hamilton, em Clinton. A obra em Utica atraíra tanta atenção que muitas pessoas de Clinton, entre as quais estavam alguns dos professores da faculdade, estiveram em Utica, e contaram o que acontecia por lá, o que resultou em bastante empolgação. Weld tinha uma posição muito proeminente entre os alunos da Faculdade Hamilton, e era muito inluente. Ouvindo sobre o que se passava em Utica, ficou muito agitado, e sua oposição levantou-se fortemente. Tornou-se um tanto abusivo em suas expressões de oposição à obra, como vim a saber.

Esse fato ficou conhecido em Utica, e sua tia, com quem ele se hosperada, ficou muito ansiosa por ele. Para mim ele era um completo estranho. Sua tia escreveu-lhe, pedindo-lhe para que viesse para casa e passasse um domingo, para ouvir a pregação e interessar-se na obra. A princípio ele não aceitou, mas por fim reuniu alguns dos alunos e disse-lhes que havia decidido ir até Utica, que sabia que não passava de fanatismo e entusiasmo, que sabia que isso não o afetaria, e eles veriam que não. Ele estava totalmente oposto, e sua tia logo soube que ele não pretendia escutar minha pregação. O Sr. Aiken costumava ocupar o púlpito pela manhã, e eu, à tarde e à noite. Sua tia soube que ele pretendia ir à igreja pela manhã, esperando que o Sr. Aiken pregasse, mas não iria à tarde nem à noite, porque estava determinado a não me ouvir.

Em vista disso, o Sr. Aiken sugeriu que eu pregasse de manhã. Eu concordei e fui para a reunião. O Sr. Aiken abriu culto, como de costume. A Sra. C veio para a reunião com sua família, e entre eles, o Sr. Weld. Ela fez questão de fazer com que ele sentasse em um lugar do qual não poderia sair, sem que ela e mais um ou dois membros da família saíssem também. Pois ela temia, como disse, que ele saíria quando visse que eu iria pregar. Eu sabia que a influência dele entre os jovens de Utica era muito grande, e que sua ida ali teria uma poderosa influência em fazê-los reunirem-se em oposição à obra. O Sr. Aiken mostrou-me quem era o rapaz, conforme ele ia para seu lugar.

Depois dos protocolos iniciais, levantei-me e li essa passagem: "Um só pecador destrói muitos bens." Eu nunca tinha pregado sobre essa pasagem, nem escutado nenhuma pregação sobre ela, mas ela veio com tanto muito em minha mente, e esse fato decidiu a escolha do texto. Comecei a pregar, e a mostras em muitos exemplos, como um pecador pode destruir muitos bens, e como a influência de um homem pode destruir várias almas. Suponho que descrevi Weld muito bem, e o que era sua influência, e que danos poderia causar. Uma ou duas vezes ele tentou sair, mas sua tia, percebendo isso, inclinava-se, apoiava-se no banco da frente, e começava a orar silenciosamente, e ele conseguiria sair sem se levantar e perturbá-la; por isso ele permaneceu em seu lugar até que a reunião terminasse.

No dia seguinte fui até uma loja na rua Genesee, para conversar com algumas pessoas lá, como era meu costume ir de lugar em lugar para conversar. E quem encontro lá, senão Weld? Ele veio para cima de mim sem cerimônia alguma, e creio que, por quase uma hora, falou comigo de maneira mais abusiva. Eu jamais escutara nada igual. Não tive oportunidade de falar quase nada para ele, pois sua língua trabalhava incessantemente. Ele era muito eloqüente. Aquilo logo chamou a atenção de todos que estavam na loja e a notícia correu pelas ruas, e os balconistas das lojas vizinhas reuniram-se para ouvir o que ele tinha a dizer. A loja parou, e todos prestavam atenção em sua vituperação. Mas por fim eu apelei a ele e disse "Sr. Weld, se o senhor é o filho de um ministro de Cristo, essa é a maneira correta de se comportar?" Eu disse algumas palavras sobre isso, e vi que o afligiu; e vomitando algo muito severo, ele imediatamente deixou a loja.

Eu também saí, e retonei à casa do Sr. Aiken, onde estava hospedado na época. Eu estava lá há alguns instantes quando alguém chegou à porta, e como nenhum empregado estava por perto, eu mesmo atendi. E quem entra, senão o Sr. Weld? Ele parecia estar prestes a afundar. Começou imediatamente a fazer a mais humilde confissão e pedir desculpas pela maneira com que tratara-me, e expressou-se nos mais fortes termos de auto-condenação. Peguei-o gentilmente pela mão e tive uma pequena conversa, assegurando-lhe que eu não tinha nada contra ele, e exortei-o honestamente a entregar seu coração para Deus. Acredito que orei com ele antes que fosse embora. Ele saiu, e não tive mais notícias suas naquele dia.

Naquela noite preguei, eu acho, em New Hartford, e retornei muito tarde. Na manhã seguinte eu soube que ele fora para a casa de sua tia muito impactado. Ela pediu-lhe que orasse com a família. Ele disse que a princípio ficou chocado com a idéia. Mas seu ódio aumentou tanto, que ele pensou que aquela era uma maneira na qual ele ainda não havia expressado sua oposição, e portanto concordaria com seu pedido. Ajoelhou-se e começou, e seguiu com o que sua tia esperava que fosse uma oração, mas de sua parte, era a mais blasfema vituperação que podia ser expressada. Ele continuou de uma maneira maravilhosa, até que todos convulsionassem e ficassem alarmados; e ele falou por tanto tempo que o dia virou noite antes que terminasse. Sua tia tentou conversar e orar com ele, mas a oposição em seu coração era terrível. Ela ficou assustada com as opiniões que ele apresentava. Depois de orar com ele e dizer-lhe para entregar seu coração a Deus, ela se retirou.

Ele foi para o seu quarto, e ficava andando de um lado para o outro, às vezes, deitando-se no chão. Continuou a noite inteira com esse terrível estado mental, com raiva, rebelde, e ao mesmo tempo tão convicto que mal conseguia viver. No raiar da aurora, enquanto ainda andava para lá e para cá em seu quarto, contou, uma pressão veio sobre ele e levou-o ao chão, e com ela uma voz que parecia ordená-lo a arrepender-se, a arrepender-se agora. Ele disse que foi derrubado ao chão, e ali ficou, até que, no final da manhã, sua tia subiu e o encontrou caído, chamando-se a si mesmo de tolo e idiota, e aos olhos humanos, com seu coração quebrado em mil pedaços.

Na noite seguinte ele se levantou na reunião, e perguntou se poderia fazer uma confissão. Eu respondi que sim, e ele fez uma confissão públia diante de toda a congregação. Disse que cabia a ele mesmo remover a pedra de tropeço que colocara perante todas as pessoas, e queria uma oporutnidade para fazer a confissão mais pública que pudesse. Ele fez uma confissão muito humilde, honesta e quebrantada.

A partir de então, ele se tornou um voluntário muito usado na obra. Trabalhava diligentemente, e sendo um poderoso discursista, com um grande dom de oração e trabalho, foi instrumento, por muitos anos, na obra do bem, e na conversão de muitas almas. Com o tempo, sua saúde tornou-se frágil por tanto trabalho. Ele foi obrigado a deixar a faculdade, e embarcou em uma excursão de pescadores para a costa do Labrador. Voltou o mesmo obreiro honesto de antes, com a saúde renovada. Tive nele, por um tempo considerável, um ajudador eficiente, nos lugares onde trabalhei.

Eu falei que nenhuma resposta pública foi feita às coisas que foram publicadas, em oposição a esses avivamentos; isto é, a nada que foi escrito pelo Dr. Beecher ou pelo Sr. Nettleton. Eu também disse que foi publicado um panfleto pelos pastores que compunham a Associação Oneida, em oposição à essa obra. A isso, creio eu, nenhuma resposta pública foi dada. Lembro-me que um pastor Unitário, que vivia em Trenton, naquele condado, publicou um panfleto abusivo, no qual apresentava a obra de forma totalmente errônea, e fazia um ataque pessoal à minha pessoa. A isso o Rev. Sr. Wetmore, um dos membros do Presbitério de Oneida, publicou uma resposta.

Esse avivamento ocorreu no Inverno e primavera de 1826. Quando os convertidos já haviam sido recebidos pelas igrejas por todo o condado, o Rev. John Frost, pastor da Igreja Presbiteriana em Whitesboro, publicou um panfleto contanto algumas coisas sobre o aviamento e declarou, se me lembro direito, que dentro dos limites daquele presbitério, os convertidos eram um total de três mil. Eu não tenho cópias de nenhum desses panfletos. Falei que a obra espalhou-se a partir de Roma e Utica, como se de um centro, para todas as direções. Pastores vinham de distâncias consideráveis, e passavam mais ou menos dias participando das reuniões, e ajudando de várias maneiras a levar a obra adiante. Eu mesmo trabalhei na maior área que pude, trabalhando mais ou menos dentro dos limites do presbitério. Não posso lembrar-me agora dos lugares onde passei mais ou menos tempo. Os pastores de todas aquelas igrejas simpatizavam profundamente com a obra, e como homens bons e verdadeiros, colocavam-se aos pés do altar, e faziam tudo que podiam para levar adiante o grande e glorioso movimento, e Deus deu-lhes uma rica recompensa.

As doutrinas pregadas nesses avivamentos foram as mesmas que já foram apresentadas. Ao invés de falar para os pecadores usarem os meios da graça e orarem por um novo coração, nós os chamávamos a fazerem de si mesmos um novo coração e um novo espírito, e insistíamos no dever de rendição imediata a Deus. Dissemos-lhes que o Espírito estava lutando com eles para induzí-los agora a entregar seu coração a Ele, a acreditar agora, e a entrar de uma vez por todas em uma vida de devoção a Cristo, de fé, amor, e obediência cristã. Ensinamos a eles que enquanto oravam pelo Espírito Santo, resistiam-no constantemente; que se de uma vez por todas se entregassem a suas próprias convicções de deveres, seriam cristãos. Tentamos mostrar-lhes que tudo que eles haviam dito ou feito antes de se submeter, acreditar, entregar seu coração a Deus, era pecado, não era o que Deus queria que fizessem, mas simplesmente o adiamento do arrependimento e da resistência ao Espírito Santo.

É claro que ensinamentos como esses tinham muita oposição, mas mesmo assim era muito abençoado pelo Espírito de Deus. Antes, supunha-se que era necessário que um pecador permanecesse um longo tempo sob convicção, e não era raro ouvir velhos professores de religião dizendo que ficaram sob convicção há muitos meses, ou anos, antes de encontrarem alívio; e eles evidentemente tinham a impressão de que quanto mais tempo ficassem sob convicção, maior era a prova de que realmente haviam-se convertido. Nós ensinávamos o oposto disso. Eu insistia que se ficassem muito tempo sob convicção, corriam um grande risco de se auto-justificarem, no sentido de que pensariam ter orado bastante, e feito muita coisa para persuadir Deus a salvá-los; e que por fim acalmar-se-iam com uma falsa esperança. Dissemos a eles que sob essa prolongada convicção, corriam o risco de afastar o Espírito de Deus, e quando a angústia de suas mentes cessasse, uma reação aconteceria naturalmente, sentir-se-iam menos angustiados, e talvez até um certo grau de conforto, pelo qual corriam o risco de acreditar que haviam-se convertido; que o mero pensamento que possivelmente haviam-se convertido podia criar um grau de alegria, a qual confundiriam com a alegria e a paz de Cristo; e que esse estado de mente ainda podia desiludí-los mais adiante, se fosse tomado como prova de que realmente converteram-se.

Tentamos descartar minuciosamente esses falsos ensinamentos. Insistimos na época, como sempre fiz desde então, na submissão imediata, como a única coisa que Deus aceitaria de suas mãos; e que toda demora, por qualquer pretexto, era uma rebelição contra Deus. Tornou-se muito comum sob esses ensinamentos, que as pessoas se convertessem no curso de algumas horas, e algumas vezes, em alguns minutos. Tais conversões repentinas eram alarmantes para muitas pessoas de bem, e é claro, eles previam que esses convertidos afastar-se-iam, provando não serem convertidos de fato. Mas o tempo provou que em meio a essas conversões repentinas, estavam alguns dos mais influentes cristão já conhecidos naquela região do país; e vi isso também por experiência própria, durante todo meu ministério.

Já mencionei que o Sr. Aiken respondeu em particular algumas cartas do Sr. Nettleton e do Dr. Beecher. Algumas das cartas do doutro, na época, foram publicadas, mas não causaram nenhum impacto público. As respostas do Sr. Aiken, que ele enviava por correio, pareciam não fazer diferença alguma com a oposição de nenhum dos dois. Por uma carta que o Dr. Beecher escreveu, nessa mesma época, ao Dr. Taylor de New Haven, parecia que alguém causara-lhe a impressão de que os irmãos envolvidos em promover esses avivamentos faltavam com a verdade. Nessa carta, ele dizia que o espírito da mentira era tão predominante naqueles movimentos, que não se podia acreditar em nada nos irmãos que os promoviam. Essa carta do Dr. Beecher para o Dr. Taylor achou seu caminho para a imprensa. Se fosse republicada hoje, as pessoas da região onde esses avivamentos prevaleceram achariam muito estranho que o Dr. Beecher, em uma carta particular, escreveria tais coisas sobre os pastores e cristãos envolvidos em promover aqueles grandes e maravilhosos movimentos.

 

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